segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ADEUS, MIRIAM MAKEBA

Miriam Makeba participou ontem na sua última batalha contra a discriminação.
Caiu, lutadora, no final de mais uma “escaramuça” (um concerto contra o racismo e o crime organizado e em apoio ao escritor Roberto Saviano[1]), na sua cruzada de sempre.

O coração traiu a VOZ que tanto lutou pelas causas em que acreditava. A sua histórica luta contra o “apartheid” valeu-lhe trinta anos de exílio, mas também um regresso triunfal à sua terra natal.

Personalidade de convicções fortes, enfrentou até na sua vida profissional contratempos impostos pelas suas opções, como a denúncia do contrato que a ligava à RCA após o seu casamento, em 1968, com Stokely Carmichael, líder do grupo "Panteras Negras" (partido negro revolucionário norte-americano). Praticamente impedida de se apresentar em palco (a generalidade dos concertos que tinha agendado foram cancelados em consequência da ruptura sentenciada pela etiqueta RCA[2]), Makeba encontrou refúgio na Guiné, país cujo presidente, Sékou Touré[3], a nomearia delegada na ONU e lhe proporcionaria vibrantes intervenções denunciando o “apartheid”.

O seu papel na preservação e divulgação da música e cultura africana valeu-lhe o epíteto de «MAMA AFRIKA»; para ouvirmos deixou-nos canções como «PATA PATA» e «THE CLICK SONG» e o legado da luta em prol das nossas convicções.
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[1] Jornalista e escritor italiano, natural de Nápoles, autor do famoso livro “Gomorra” sobre a Camorra (máfia napolitana), cujo sucesso lhe valeu grande notoriedade (nacional e internacional) e várias ameaças. Além do concerto realizado este fim-de-semana, no passado mês de Outubro seis antigos laureado com o Prémio Nobel (Orhan Pamuk, Dario Fo, Rita Levi-Montalcini, Desmond Tutu, Gunther Grass e Mikhail Gorbatchev) publicaram um manifesto apoiando Saviano e denunciando a Camorra com um problema da democracia.
[2] Inicialmente conhecida como Radio Corporation of America, foi uma empresa da área da electrónica fundada em 1919 e que após a sua aquisição pela GENERAL ELECTRIC, em 1986, foi desmembrada. O seu catálogo discográfico pode ser hoje encontrado sob a etiqueta da Sony BMG Music.
[3] Presidente da República da Guiné entre 1958 e 1984, foi um dos mais destacados e carismáticos líderes na luta contra o colonialismo em África e um dos obreiros da independência da Guiné.

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