Argumenta a líder do maior partido da oposição que não faz sentido o Estado “ajudar” as empresas quando em simultâneo acumula atrasos nos pagamentos às mesmas empresas e que se assim não procedesse, o governo poderia até reduzir a carga fiscal porque não estaria a aumentar a despesa pública.
O raciocínio apresentado até poderia fazer sentido se o Estado financiasse directamente as empresas ou se dispusesse de recursos para pagar as dívidas às empresas, ora o que sucede, como Manuela Ferreira Leite bem sabe é que os financiamentos agora anunciados serão disponibilizados pela Banca e o Estado apenas despenderá, mais tarde, os valores respeitantes às bonificações dos juros que os bancos irão cobrar.
Pelo contrário, uma rápida liquidação das facturas em dívida às empresas é que originará um agravamento da despesa pública em virtude da necessidade do aumento do endividamento público, salvo o caso (não noticiado em qualquer órgão de comunicação) de num golpe de pura sorte o Ministério das Finanças descobriu algumas reservas que toda a gente desconhecia.
O que, talvez por pudor, Manuela Ferreira Leite não referiu é que aquela iniciativa governamental não passa de mais uma medida conjuntural que além de proporcionar algum desafogo de tesouraria (25 mil euros para cada micro-empresas e 50 mil euros para cada PME) poderá facilitar o aumento da circulação monetária, profundamente degradado pelo substancial aumento dos prazos de pagamento e proporcionar mais alguns ganhos aos bancos (algo de que estão desesperadamente necessitados) e a redução dos encargos financeiros das empresas, que irão utilizar esta nova linha na substituição de créditos mais caros.
Outra coisa que nem Manuela Ferreira Leite nem José Sócrates alguma vez referiram (ou manifestaram sequer alguma preocupação) é o facto da generalidade das nossas microempresas e PME’s sofrerem de um defeito congénito, uma malformação genética que os diversos governos que conhecemos nunca procuraram corrigir: uma crónica escassez de capitais próprios.
Será que o desenvolvimento económico de qualquer país se consegue alcançar com empresas falidas e/ou sobreendividadas?
É que o que Manuel Ferreira Leite denuncia como um esquema maquiavélico para o Estado controlar as PME não passa de um esquema maquiavélico sim, mas para todos ficarmos cada vez mais dependentes de um recurso – o crédito – que apenas os banqueiros controlam.
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