Sinais inequívocos das chamadas bolhas especulativas, estas quedas nas cotações das acções também representam sinais de alerta de (e para) outros fenómenos económicos. A mini-crise que agora se regista (até já pode ter sido ultrapassada a avaliar pelos resultados de hoje) tem, segundo os especialistas, origem nos receios de uma recessão na economia americana muito influenciada pela agitação que percorre o mercado imobiliário americano (ver notícia da BBC).
Hoje mesmo Perez Metelo referiu-se a este fenómeno, num artigo no DN e na sua habitual crónica diária na TSF, procurando explicar o fenómeno com base nas expectativas (e receios) que estarão a formular as famílias americanas que vivem uma situação de forte endividamento e reduzidas taxas de poupança, concluindo que «... a dar-se a queda do imobiliário na América, os sectores homólogos no Reino Unido e na Espanha, igualmente sobrevalorizados, podem ampliar a onda recessiva».
Tudo isto é muito real e algo há muito perfeitamente conhecido pelos intervenientes nos mercados de capitais (nacional e estrangeiros); ocorre nos EUA como na generalidade dos países onde os desequilíbrios económicos e de balanças de pagamentos são uma realidade, mas não são apenas os sectores imobiliários americano, inglês e espanhol que estão sobrevalorizados.
Por isso há muito me espanto que no caso português a situação de crise no sector da construção civil não tenha merecido o devido acompanhamento pelas entidades responsáveis; é que entre nós, como nos EUA, a generalidade das famílias portuguesas encontra-se sobreendividada e os níveis de poupança continuam muito baixos, mas nada nem ninguém parece preocupar-se demasiado com isso.
Fruto de uma situação “sui generis” no mundo, Portugal é o país onde a percentagem de proprietários imobiliários “versus” população total é a maior e onde os preços dos imóveis não param de subir nem que se registe (como é agora o caso) uma evidente crise de sobreprodução. Como se nada estivesse a acontecer os empresários do sector e as autarquias continuam a licenciar novas construções e a urbanizar novas áreas do território, talvez na expectativa que ninguém repare a forma descuidada como caminham para o abismo e algum “milagre” os venha a salvar.
Desconheço a forma como está organizado e segundo a qual funciona o mercado imobiliário americano, que seguramente não se baseia no impensável princípio de que cada família tem que adquirir a sua própria habitação, mas mesmo sujeito a pressões especulativas tenderá a ajustar-se em função dos volumes de oferta e procura. Ora entre nós, onde os agentes imobiliários se resumem a construtores/vendedores e não existem os “arrendadores”, o princípio que tem vigorado é o de que hoje ou amanhã alguém há-de comprar a habitação construída, realizando-se então as mais-valias normais dos construtores acrescidas das necessárias ao pagamento dos juros (tanto maiores quanto maior for o tempo de espera até à comercialização) devidos aos bancos.
Devido ao quase nulo peso do mercado de capitais nacional no mercado mundial, este não origina qualquer pressão para a resolução desta grave situação interna, mas enquanto ela perdurar e não forem:
- implementadas políticas para refrear a “sanha” construtiva que persiste em Portugal (seja por via oficial seja por via da limitação do crédito bancário);
- criadas as bases de um mercado eficaz de aluguer de habitação (esta sim, via natural para as famílias acederem à habitação de que necessitam);
continuaremos a assistir ao agravamento do déficit das famílias, ao desenvolvimento de negócios muito pouco claros a nível autárquico e a contribuir para os aumentos dos ganhos do sector financeiro.
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