sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

NOTAS MARGINAIS AO FÓRUM DE DAVOS

Iniciada no passado dia 24 mais uma reunião do Fórum Económico Mundial, que este ano pretende apresentar-se sob uma nova perspectiva – a da globalização “social” – rapidamente registou um número suficiente de acontecimentos (verdadeiros “happenings” ao tradicional gosto anglo-saxónico) que não devem deixar de merecer reflexão.

Começando na própria intenção de alargar a reflexão às necessidades das economias subdesenvolvidas (como se por mais mutações que possa sofrer o pensamento liberal e neoliberal alguma vez admita contemplar outras preocupações além da maximização dos seus lucros) e aos problemas ecológicos (cada vez mais prementes e de bom tom), passando pelas declarações proferidas pelo vice-presidente iraquiano – Adel Abdel Mehdi – que qualificou a invasão do seu país pelos americanos como uma decisão idiota e culminando no anúncio da criação de uma zona de mercado livre a funcionar entre Israel, a Palestina e a Jordânia.

É natural que para promotores e participantes no Fórum, quem manifeste estupor ou cepticismo, perante este amontoado de novidades, não pode deixar de ser alguém completamente empedernido e perdido para os desafios do Mundo Global em que dizem que vivemos. Porém os factos descritos justificam uma outra leitura além das notícias telegráficas que os divulgaram.

Se mesmo os mais fervorosos adeptos dos princípios liberais e neoliberais encontrarem algumas dificuldades para justificarem esta súbita preocupação com as populações dos países que há muito condenaram a um estado de mera sobrevivência, haverá sempre a hipótese de se reclamarem de um papel renovador, algo a que também poderão recorrer para justificar as recém adquiridas preocupações ambientais, mesmo quando estas colidirem de forma mais ou menos directa com o seu “santo dos santos”, a maximização dos lucros.

Mais difícil de explicar serão as declarações de Abdel Mehdi e a apresentação da iniciativa israelo-jordano-palestiniana. A primeira será enquadrável no âmbito de uma muito ocidental prática do politicamente correcto ou no da confirmação do total descalabro que será o governo iraquiano; a segunda estará seguramente reservado um papel no anedotário mundial, na medida em que não existe memória da existência de um mercado livre num estado militarmente ocupado.

Por incrível que possa parecer, a reunião em curso do mais mediático e globalizante dos “think tank” mundiais corre o sério risco de ficar marcada apenas por notas marginais como estas.

Sem comentários: