quarta-feira, 27 de junho de 2007

NEM SEMPRE A FRUTA É DOCE

Nas últimas semanas a COMPAL tem sido notícia nos meios de comunicação nacional. Destacando-se pela positiva pela iniciativa da criação de um Dia Nacional da Fruta e pelo empenho na divulgação de iniciativas de educação alimentar, mas também pela bem menos nobre razão da disputa entre os seus actuais accionistas, que não se entendem quanto aos resultados registados em 2006.

Após a sua aquisição à NUTRINVESTE, em Novembro de 2005 pela SUMOLIS e pela CGD, a empresa manteve a sua política de crescimento e de investimento, sendo de destacar o que realizou para o lançamento do produto Compal Essencial, no montante de 13 milhões de euros. Porém, a avaliar por aquelas notícias nem tudo estarão a ser rosas...

Os compradores, que concentraram as suas participações (80% para a CGD e 20% para a SUMOLIS) na INBEPOR e que posteriormente a fusionaram com a COMPAL (forma seguramente interessante de “atirar” os custos financeiros da aquisição para a adquirida), não se entendem agora na contabilização dos resultados do exercício de 2006. Para o accionista maioritário a COMPAL encerou o exercício com um resultado positivo de 1,2 milhões de euros (valor que seguramente constará do seu resultado consolidado), enquanto para a SUMOLIS o resultado foi de 1,1 milhões de euros de prejuízo.

Fazendo fé nas notícias, o que está em causa é muito mais que um diferendo de 2,3 milhões de euros (aparentemente fruto de divergências quanto ao tratamento contabilístico a dar a um crédito fiscal no valor de 2,5 milhões de euros), pois a CGD e a SUMOLIS parece não se entenderem quanto ao futuro da empresa. Nos termos do acordo formalizado para a aquisição da COMPAL, a SUMOLIS terá assumido o compromisso de adquirir os 80% da CGD, mas até esta data ainda não avançou com nenhuma proposta, ao que parece por dificuldades de financiamento.

A CGD, cujo único óbvio interesse no negócio terá sido uma eventual valorização da empresa para posterior venda (mesmo descontando um eventual interesse político na manutenção da propriedade da COMPAL em Portugal) vem ameaçando o parceiro minoritário com a intenção de proceder à venda a outros interessados [1].

A decisão da CMVM – COMISSÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS de se pronunciar favoravelmente à interpretação da SUMOLIS[2] é de todo em todo irrelevante, porquanto o cerne da questão deve ser procurado noutro lugar.

Esta residirá não só no diferendo entre a CGD e a SUMOLIS, mas principalmente nos contornos do processo de aquisição à NUTRINVESTE, onde além do preço de aquisição excessivo (fenómeno realçado na altura por inúmeros operadores do mercado) se destaca o facto da empresa compradora apresentar uma situação económico-financeira francamente inferior à adquirida (a SUMOLIS registava um período de resultados negativos enquanto a COMPAL chegava a apresentar lucros superiores a 25 milhões de euros) e de se ter confrontado com um generalizado desinteresse do sector financeiro (apenas a CGD surgiu como parceira no negócio), situação que parece manter-se até esta data.

Infelizmente, tudo se conjuga para que os receios que há mais de um ano aqui manifestei se venham a tornar realidade.

A concretizar-se a ameaça da CGD não faltarão interessados na aquisição, tanto mais que a regra actual na economia de mercado é a da recuperação e reestruturação de empresas, entendendo-se esta prática como a aquisição de activos para posterior desmembramento, encerrando os sectores menos rentáveis e assegurando a posterior venda dos mais rentáveis e o respectivo encaixe financeiro.

De momento pouco mais resta que aguardar para vermos qual vai ser o real futuro da COMPAL e das sua unidades industriais de Almeirim e de Vila Flor, mas a concretizar-se o cenário mais pessimista ambas as autarquias se deverão preparar para assistir e enfrentar uma degradação da situação económica e social a nível local.
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[1] Ver a notícia do JORNAL DE NEGÓCIOS
[2] Ver a notícia do JORNAL DE NEGÓCIOS

2 comentários:

antonio ganhão disse...

Começa já a ser uma velha história: lixados pelo mercado financeiro!

Para quando a globalização para o mercado financeiro? Se tenho que competir com a China em todo o tipo de mercado, porque é aqui há-de ser diferente?

Porque é que este mercado há-de crescer à custa de nos tornar a todos mais pobres? Fim do proteccionismo ao mercado financeiro! Globalização já!

A Xarim disse...

Lamento contradizê-lo, mas isto... é a GLOBALIZAÇÃO!