domingo, 17 de junho de 2007

IRMÃOS INIMIGOS

O confronto que nos últimos dias se tem agravado na faixa de Gaza entre militantes palestinianos do Hamas e da Fatah, mesmo que reflexo de “outras guerras”[1] não é menos uma luta fratricida, cujo único real perdedor será o povo palestiniano.

Ainda assim, não resisto a sublinhar como é curioso que a par com a notícia da decisão do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, de dissolver o governo liderado por Ismael Haniyeh (do Hamas) de pronto tenham surgido dois tipos de reacções. Enquanto, segundo esta notícia do DN, o Hamas anunciava a “libertação” da faixa de Gaza, desvalorizava aquela decisão de Abbas e reforçava as suas críticas de colaboracionismo à direcção da Fatah, dos EUA chegavam, via uma notícia da BBC, ecos de declarações do Presidente George W Bush, confessando-se profundamente preocupado com o agravamento da crise e apelando ao cessar da violência, e da Secretária de Estado Condoleezza Rice manifestando-se em apoio de Abbas e do exercício da sua autoridade.

Mas mais interessante que sublinhar aqui as “lágrimas de crocodilo” de Bush ou o enfático apoio da sua Secretária de Estado à Fatah, será lembrar que tudo isto se aparenta mais com um suicídio da causa palestiniana que com uma simples luta pelo poder (argumento tão do agrado da imprensa ocidental). Mesmo relembrando que o conflito entre as duas forças palestinianas se agravou após a vitória do Hamas nas eleições legislativas que tiveram lugar no início de 2006 e que teve como forte elemento catalisador a decisão dos EUA, de Israel e da UE de boicotar política e economicamente um governo democraticamente eleito (os observadores ocidentais ao processo eleitoral classificaram-no, na altura, como mais democrático até então realizado num país árabe[2]), medida complementada com a suspensão de todo o apoio financeiro a um povo obrigado pela força militar israelita a depender quase exclusivamente desse auxílio, nem por isso este deixa de constituir um fortíssimo revés para a causa palestiniana.

De pouco ou nada deverão agora servir a nomeação de um novo governo, liderado pelo tecnocrata pró-Fatah, Salam Fayyad, ou piedosas observações, como esta publicada no jornal judaico YEDIOT AHARONOT, reconhecendo as responsabilidades da política israelita na sua proverbial incapacidade para negociar com os palestinianos. O pior (para os palestinianos) parece ter acontecido e bem pode agora o governo de Ehoud Olmert apelar à criação de uma força árabe de interposição; Mahmoud Abbas perdeu todo o seu campo de manobra, se é que alguma vez o teve, e os moderados do Hamas, com o primeiro-ministro Ismael Haniyeh poucas condições deverão encontrar para remediar o mal feito.

Bem mais cientes desta realidade estarão muitos dos habitantes palestinianos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, para os quais o fundamental ainda é um clima de paz que possibilite a organização das suas vidas diárias.

Igualmente reveladora deste sentimento tem sido a forma como grande número de “cartoonistas” têm representado a luta fratricida entre os palestinianos.

Porque as palavras que pudesse usar para reforçar aquele sentimento não constituirão muito mais que uma repetição de outras que já usei para apreciar a situação global no Médio-Oriente aqui deixo uma imagem que espero tenha melhor efeito que muitas palavras...

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[1] Ver o “post” intitulado «O DIFÍCIL EQUILÍBRIO»
[2] Ver esta notícia da BBC, publicada em 26 de Janeiro de 2006, e esta outra do DN, na mesma data

1 comentário:

antonio ganhão disse...

Só não percebo uma coisa: quem que anda aos tiros? Elementos pagos pelo Bush, ou o próprio povo palestiniano?

Parece-me que por lá existe uma elite instalada que precisa da guerra para se eternizar no poder, com Bush ou sem ele.