Não tanto pelo conteúdo, mas principalmente pelo título (as manchetes anda continuam a ser importantes no dia a dia) esta notícia do PUBLICO merece que lhe dediquemos alguma atenção:
TRABALHADORES PORTUGUESES VÃO TER OS AUMENTOS REAIS MAIS BAIXOS DA OCDE ATÉ 2008
TRABALHADORES PORTUGUESES VÃO TER OS AUMENTOS REAIS MAIS BAIXOS DA OCDE ATÉ 2008
A contínua erosão do poder de compra das classes trabalhadores em Portugal é algo que poderá espantar os analistas da OCDE (o que duvido); a divulgação da novidade poderá suscitar críticas dos “analistas” nacionais tradicionalmente próximos dos partidos governamentais (“noblesse oblige” e de quando em vez é preciso sair em defesa dos “chefes”), poderá até aumentar o tom e o número dos que ao longo de anos têm vindo a dizer o mesmo (sem nenhuma espécie de sucesso), mas não constitui qualquer novidade para os que sentem esse efeito no bolso.
Mas o mais espantoso da notícia não é a revelação de uma evidência, negada por muitos, mas o teor das explicações que a própria OCDE avança.
Quem iria esperar de um organismo com a reputação, a seriedade e um historial de total subordinação aos interesses económicos dominantes, uma explicação que aponta para a responsabilização da globalização – em particular para o fenómeno da deslocalização das unidades industriais – e para a inoperância dos governos dos seus países membros (por acaso os mais industrializados do planeta)?
Tranquilizem-se os mais impetuosos! A OCDE não afirma que a responsabilidade da situação é do modelo de desenvolvimento, nem do desajustamento das teses liberais.
A verdadeira explicação para esta quase apostasia reside no facto daquele organismo recear que a “corda esteja a esticar demais” e que num futuro próximo os responsáveis políticos pelo actual estado das coisas possam vir a sofrer consequências.
No documento "Employment Outlook 2007", ontem divulgado pela OCDE, questões como o efeito da globalização e do aumento das importações sobre o número de empregos e sobre os salários, apesar de afloradas, ficaram por responder.
Convenientemente, os autores do estudo, ficaram-se pelo enunciado de algumas evidências (tão evidentes que só não as vê quem não quer ver) como a de que o aumento das desigualdades sociais terá resultado, principalmente, da adopção de tecnologias de ponta geradoras de uma procura crescente de trabalhadores qualificados em detrimento dos restantes e de um maior investimento das empresas em tecnologias de capital intensivo. Sobre o devastador efeito resultante da generalização de um sistema de desenvolvimento económico exclusivamente baseado nos ganhos de capital, nem uma palavra.
De forma explícita ou disfarçada, a generalidade dos analistas (pelo menos os que maior eco e destaque obtêm nos meios de comunicação) evita abordar outras teorias ou formulações que sugiram alternativas ao modelo dominante. Sobre questões como a da necessidade de reforma do sistema monetário, nem uma palavra.
Porque será que perante as evidentes incongruências geradas pelo sistema dominante (que tudo subordina ao crescimento de um indicador como o PIB) os defensores de outros conceitos, como o do desenvolvimento sustentado e o da economia do bem-estar, continuam a ser tratados como meros activistas antiglobalização ?
O que haverá de estranho em defender princípios que defendem a avaliação das políticas económicas em termos dos seus efeitos sobre o bem-estar geral, quando o que diariamente vemos em nosso redor são os efeitos de uma política económica cada vez mais orientada para o enriquecimento de uma minoria e para o empobrecimento geral?
Quando cada vez mais se fala nos problemas originados pela poluição, ela própria fruto de uma época de exploração desenfreado de recursos, porque não defender a aplicação dos princípios básicos de sustentabilidade (aqueles que ao longo de séculos permitiram à espécie humana desenvolver-se neste planeta) às políticas económicas?
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