sexta-feira, 1 de junho de 2007

OTA – PAR(A)LAMENTAR!

Na sequência do apelo para a realização de um debate sobre a construção do Aeroporto da Ota, que o Presidente da República lançou no início desta semana, veio ontem o Primeiro-ministro responder com o agendamento para meados de Junho de uma conferência parlamentar sobre o tema.


Ainda que forma um pouco leviana poder-se-ia dizer que, incluindo aquela conferência parlamentar, tudo isto é para lamentar. Senão vejamos:


1. é para lamentar que há dezenas de anos se venha “falando” na necessidade de substituir o Aeroporto da Portela, mas que nele se tenham continuado a “enterrar” milhões de euros em obras de melhoramento, expansão e adaptação, mas sem nunca se ter acautelado a expansão da malha urbana em seu redor;
2. é para lamentar que ao longo de todos aqueles anos pouco mais se tenham produzido que uns estudos prévios e que por fim tenha sido deixado ao livre critério de um “político” a escolha de uma opção;
3. é para lamentar que todos os partidos políticos que têm dividido o poder nas últimas décadas tenham participado nesta clara manobra de encobrimento de informação e de favorecimento de uma estratégia de facto consumado (mesmo os que agora de forma oportunística e após a generalização de um movimento contestatário venham criticar o que anteriormente defenderam);
4. é para lamentar que perante a generalização das críticas (mesmo que mais fundamentadas umas que outras) e perante o crescente número de técnicos que contestam a opção e/ou a forma como ela foi decidida, que o governo se remeta a uma posição de mera teimosia;
5. é para lamentar que às dúvidas e reticências fundamentadas que técnicos reputados de áreas tão diversas como a aeronáutica, a engenharia, os transportes e a gestão, o governo se remeta aos estudos em seu poder, que além de desgastados se sabe não passarem de estudos prévios;
6. é para lamentar que, fazendo fé nas intenções anunciadas pelo governo de José Sócrates, estejamos nas vésperas do lançamento de uma obra avaliada em 3 mil milhões de euros, desconhecendo:
a) a sua real necessidade, na medida em que os estudos que apontam para o esgotamento da capacidade da Portela se basearem em informação estatística desajustada da actual realidade do sector dos transportes aéreos e não contemplar nas projecções nenhum cenário resultante da futura ligação Lisboa-Madrid por TGV;
b) a existências de alternativas a uma localização da nova obra que parece mais ditada por critérios de interesse que por critérios de racionalidade
c) a existência e os resultados de um estudo de custo-benefício que comprove a viabilidade da obra;
7. é para lamentar que levantadas suspeições em torno dos reais interesses por detrás da escolha da Ota, até esta data nada, mas absolutamente nada, tenha sido feito para esclarecer essas dúvidas.


Tudo isto deveriam ser razões suficientes para que o debate da questão fosse o mais alargado possível e que todas as oportunidades fossem boas para conhecer as respectivas vantagens e inconvenientes e nunca, como parece ser a estratégia do partido no governo, para limitar o debate nem escamotear informação. Exemplo disto são as declarações de António Costa, o candidato do PS à Câmara de Lisboa e ex-ministro da administração interna do actual governo, que entende que existem problemas específicos da autarquia bem mais importantes que aquele.

Enquanto persistir a ideia de que a opção pela Ota assenta em critérios duvidosos, que existem outras localizações possíveis para o novo aeroporto e que carece de demonstração a urgente necessidade de semelhante infraestrutura, para mais num país cuja economia se revela a mais frágil da União Europeia e que para a concretização da obra o governo se prepara para entregar à iniciativa privada a gestão dos aeroportos nacionais, ninguém poderá permanecer indiferente nem silencioso sobre a questão.

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