sexta-feira, 15 de junho de 2007

I WANT YOU (ANYBODY) FOR US ARMY

As dificuldades registadas pelo Pentágono no recrutamento de um contingente adequado às actuais necessidades do aparelho militar norte-americano, nomeadamente para assegurar a rotatividade das tropas no Iraque, não são novidade.

Há muito tempo já que essas dificuldades são conhecidas, têm sido alvo de notícias na imprensa e até de algumas análises mais ou menos interessantes, mas o que recentemente noticiou a revista norte-americana «IN THESE TIMES», num artigo assinado por Terry J. Allen, intitulado «AMERICAS CHILD SOLDIER PROBLEM», vai muito além dos meros problemas originados pelas dificuldades no aliciamento de jovens para a guerra. O que o seu autor denuncia é a estratégia que o Pentágono está a usar para atingir quotas de alistamento que não param de crescer.

Como qualquer outra empresa sujeita ao actual modelo de gestão por objectivos, também os serviços de recrutamento norte-americanos recorrem às mais inconfessáveis (e condenáveis) estratégias para aliciar os jovens americanos. De acordo com aquela revista o exército norte-americano contava em 31 de Maio último cerca de 81.000 membros com idade inferior a 20 anos, dos quais 7.350 com apenas 17 anos.

Na ânsia de atingir as quotas necessárias os aliciadores têm-se socorrido de toda a espécie de subterfúgios e manobras, “assaltando” quase literalmente os terreiros dos liceus. Elaboradas campanhas de marketing são de uso corrente nas escolas; alicerçadas num orçamento estimado em mais de 4 mil milhões de dólares, 22.000 pessoas trabalham activamente no recrutamento e o manual do recrutador que utilizam expõe sem ambiguidades as tácticas a utilizar – frequentar os bares das escolas, travar amizade com elementos destacados que possam exercer influência sobre os alunos, exibir filmes de propaganda ressaltando o ambiente de camaradagem de meio militar.

Esta agressividade é particularmente orientada para a comunidade latina, uma vez que a comunidade negra se está a revelar cada vez menos receptiva ao alistamento, e canalizada para as escolas frequentadas por alunos de origens mais modestas, pois é sobejamente conhecida a pouca apetência dos chamados filhos-famílias para o serviço militar (como não recordar aqui aquela sequência de imagens do Fahrenheit 9/11, de Michael Moore, em que este distribui impressos de recrutamento aos congressistas e as respectivas reacções).

Esta situação de verdadeiro assédio é igualmente relatada por outros órgãos de comunicação, como o NEW YORK TIMES e o WASHINGTON POST que além dela referem ainda os problemas resultantes da redução dos critérios de alistamento. De acordo com o primeiro, a taxa de novos recrutas que apresentam um passado criminal cresceu 65% nos últimos três anos, situando-se em quase 12%, dado tanto mais importante quanto é conhecida a quebra no número de negros alistados e sabido que esta comunidade é a que apresenta a maior taxa de condenações.

Outro factor igualmente revelador do pouco cuidado posto no processo de alistamento é a crescente presença de elementos da extrema-direita (membros e/ou simpatizantes de organizações racistas partidárias do princípio da superioridade branca, do tipo Ku Klux Klan[1]) nas fileiras do exército, situação que já aqui referi há quase um ano.

Estas estratégias falaciosas de recrutamento, além de merecedoras de uma mais que óbvia condenação, são tanto mais preocupantes quanto acompanhadas de uma generalizada redução nos critérios de admissão, agravadas pela ausência de vigilância dos casos mais perigosos, não poderão deixar de se revelar desastrosas num futuro mais ou menos próximo. Para já serão apenas os iraquianos (e demais árabes) a sofrer as primeiras consequências da imaturidade moral e das tendências agressivas dos novos guerreiros das américas, mas tarde ou cedo estes regressarão ao seu país e às respectivas comunidades...
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[1] Ku Klux Klan (também conhecida como KKK) é o nome de várias organizações racistas dos Estados Unidos que apoiam a supremacia branca, o antisemitismo, o racismo, a homofobia e o protestantismo (padrão conhecido também como WASP) em detrimento a outras religiões, foi fundada em 1866 por veteranos do exército confederado. Na sequência de acções de natureza terrorista e criminosa (linchamento de negros, nos estado do sul) foi quase extinta pela acção do presidente Ulisses S. Grant. Refundada em 1915, chegou a contabilizar 4 milhões de membros nos anos 20 mas regista hoje um número reduzido de activistas, talvez 3.000, mas diz-se que conta com o apoio de muitos não associados. (in Wikipedia - http://en.wikipedia.org/wiki/Ku_Klux_Klan e http://pt.wikipedia.org/wiki/Ku_Klux_Klan)

1 comentário:

antonio ganhão disse...

Os americanos deviam aprender connosco, durante a guerra colonial sempre tivemos esse problema controlado e os nossos jovens gastavam 4 anos da sua vida a dar tiros em pretos e a queimar populações com napalm.

A passagem à vida adulta passava por ir "às sortes" e ainda na década de 80 se considerava a tropa, principalmente nas aldeias, como uma grande escola da vida e onde se formavam homens.

E se a Europa fosse capaz de assumir as suas responsabilidades e saísse debaixo das saias dos americanos? Talvez a história fosse outra... embora desconfie que não estaríamos melhor.