domingo, 1 de outubro de 2006

QUANDO OS “THINK TANK” COLIDEM…

Na área económica e empresarial a notícia da semana foi a publicação do relatório do Clube de Davos (WORLD ECONOMIC FORUM) sobre a competitividade das economias mundiais.

Com a novidade de colocar a Suíça no primeiro lugar do “ranking” (conquistado graças a uma elevada capacidade de inovação, uma boa infra-estrutura de investigação científica caracterizada pela colaboração entre centros de produção de conhecimento e a indústria, investimento na investigação e desenvolvimento e a existência de sistemas institucionais e jurídicos eficientes a par de um regime laboral flexível), de relegar os EUA para a sexta posição (consequência dos sucessivos deficits que nem um ambiente propício aos negócios, nem a eficiência dos seus mercados, nem a existência de grandes centros de desenvolvimento conseguiu evitar), coloca entre estes três economias europeias – Finlândia, Suécia e Dinamarca – e Singapura. Os países nórdicos, reconhecidos pelos níveis excedentários dos seus orçamentos e níveis reduzidos de endividamento, beneficiaram ainda de investimentos generalizados na educação, nas infraestruturas e num vasto conjunto de serviços sociais possibilitados por prudentes políticas fiscais.

No relatório, Portugal surge classificado no 34º lugar (menos três que na edição anterior) e isto num momento em que no nosso país ainda ressoam os ecos das recomendações do
Compromisso Portugal.

Analisando em maior detalhe a avaliação da competitividade nacional constata-se que os pontos mais negativos foram o da avaliação do desempenho macroeconómico (baixo crescimento e os défices público e externo) e o da sofisticação no negócio, enquanto os mais positivos foram os desempenhos ao nível da saúde e da educação.

Mesmo tomando as conclusões do WORLD ECONOMIC FORUM com as devidas precauções, ninguém poderá deixar de constatar que os principais problemas apontados à nossa economia resultam da esfera privada e não da acção do Estado, como se poderia concluir da análise dos mentores daquele “think tank” nacional. Como muito bem chamou a atenção Helena Garrido no
editorial do DIÁRIO DE NOTÍCIAS do passado dia 27, «(s)e a reestruturação do Estado for conseguida, o sector privado passa a ser o grande problema do País, aquele que contribui também para o fraco crescimento e o défice externo».

Este trabalho veio trazer para o debate algum realismo, com o importante peso de não ser da autoria de ninguém que liberais ou neoliberais possam considerar suspeito, e revelar (se preciso fosse) que contrariamente ao que é comum ouvir-se é às empresas e aos empresários que compete o papel de gestão e desenvolvimento dos respectivos negócios e o investimento nas áreas de investigação e desenvolvimento a eles associados. O «menos Estado, melhor Estado» tão apregoado deveria ser substituído por «mais Empresas, melhores Empresários».

Esta realidade, que de forma mais ou menos sistemática tem sido escamoteada à generalidade da população portuguesa, é a mesma que habilidosamente tem servido para fundamentar a aplicação de políticas orçamentais restritivas que se fazem sentir (e de que maneira) no rendimento das famílias.

Enquanto o Estado persiste no lançamento de grandes investimentos ditos estruturantes e envoltos em grande polémica (novo aeroporto, TGV, etc.) os empresários nacionais (grandes empresas) continuam a “apostar” em sectores de actividade com baixo valor acrescentado e a praticar políticas de gestão meramente orientadas para os benefícios fiscais; no seu conjunto, grandes e pequenos empresários, insistem em culpabilizar a rigidez da legislação laboral pelos custos da mão-de-obra mal qualificada (mas à qual recusam os meios para a qualificação) que empregam, os trabalhadores pela baixa produtividade dos equipamentos tecnologicamente ultrapassados em que investiram (enquanto apelam e esperam pelos subsídios públicos para a modernização da sua empresa).
Em resumo, três décadas após o final do estado corporativo e da lei do condicionamento industrial, o nosso país ainda não conseguiu produzir um número mínimo de empresários adaptados aos novos tempos, capazes de investirem no desenvolvimento das suas empresas (e do seu país) porque no essencial todos eles ambicionam o sucesso (e o rendimento) dos grandes negócios sem o risco a eles associados e sob a protecção tutelar de um Estado que querem liberal para com os restantes factores produtivos; numa palavra: os nossos empresários mantêm intacta a mentalidade “salazarenta” dos tempos do Estado Novo.

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