O DIÁRIO ECONÓMICO titulava hoje que os cinco maiores bancos a operar em Portugal – CGD, BCP, BES, Santander Totta e BPI – disponibilizam linhas de crédito para financiar a aquisição de acções da gasolineira nacional.
Independentemente de ser, ou não, questionável a venda de acções de uma empresa a um valor mínimo superior a 5 euros quando o EPS[1] (segundo o Relatório e Contas de 2005) era de 2,66€, é seguramente questionável que o governo de José Sócrates, no afã de transformar o IPO[2] da Galp Energia num sucesso caucione este tipo de estratégia.
Além da irresponsabilidade que constitui para a maioria dos pequenos investidores a contratação de empréstimos para a aquisição de activos financeiros, na perspectiva de uma valorização que poderá ou não ocorrer, existe ainda o facto destes novos créditos virem a aumentar o nível de endividamento das famílias, que ainda não há muito tempo o mesmo governo apelidava de preocupante.
É evidente que no final da operação, Sócrates ou Teixeira dos Santos, o seu ministro das finanças, prestarão entusiásticas declarações aos jornalistas sobre o sucesso da operação (congratular-se-ão pelos milhões de euros que as finanças públicas encaixarão e pelo importante contributo para a redução do déficit público) e esquecerão que com mais esta manobra financeira estiveram a contribuir para:
- o aumento dos lucros dos bancos, que cobrarão juros sobre o capital financiado aos particulares e maiores comissões à Galp na colocação das acções;
- a degradação do nível de vida de muitos dos pequenos subscritores aliciados à aquisição de um produto financeiro cujas características específicas e riscos (empresariais e de mercado) desconhecem quase em absoluto;
- o aumento do nível de endividamento das famílias.
Este é mais um exemplo da inconsistência entre o discurso político e a prática governativa, matéria em que o nosso país tem sido pródigo, e cujos reflexos estão cada vez mais à vista de todos.
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