segunda-feira, 26 de julho de 2010

T(I)ER OU NÃO T(I)ER

A avaliar pela primeira página do ECONÓMICO não deveria haver mais lugar a preocupações.

Notícias como a de que os «Bancos portugueses são os mais sólidos do Sul da Europa» ou a de que a «Banca brilha em bolsa com nota positiva nos “stress tests”», deveriam confortar todas as almas e o Sol deveria até (como tem acontecido nos últimos dias) ter nascido mais quente e radioso.

O problema é que os resultados tão amplamente propagandeados – até o ministro «Teixeira dos Santos diz que bancos portugueses passam "confortavelmente" nos testes» – podem ser profundamente enganadores. O próprio ECONÓMICO, fazendo eco de comentários de Nouriel Roubini que destaca o facto dos «…testes consideram apenas os títulos de dívida nos balanços de 'trading' dos bancos…», veio lembrar que os «Testes de stress à banca europeia não são realistas»; seguindo a mesma linha de raciocínio, um relatório do CITIGROUP (referido na notícia «24 bancos falhavam testes mais duros, nenhum nacional»), assegura que «…se os testes avaliassem as perdas com títulos de dívida pública contabilizados nos balanços dos bancos e não apenas nas actividades de 'trading', 24 instituições europeias chumbavam nas avaliações…».

Mesmo sem entrar num nível de crítica por vezes difícil de explicar ao cidadão comum, bastará recordar que um dos pressupostos do modelo de avaliação e critério principal para os resultados finais é o do cumprimento do rácio TIER 1[1], que os autores fixaram num mínimo de 6%, donde resulta que sendo o limiar mínimo de capital necessário tão baixo, tão baixo, o “conforto” que assegura é mesmo mínimo e poucas garantias deve proporcionar a quem efectivamente se preocupe com a questão.

Considerar que empresas asseguram uma boa e saudável situação financeira com rácios de fundos próprios (TIER 1) daquela ordem de grandeza é participar numa farsa e louvar os quatro bancos portugueses avaliados por terem uma média de 8,4% é pura mistificação, tanto que os próprios bancos exigem das empresas que financiam rácios de cobertura de capital bem superiores aos que lhe foram agora exigidos.



[1] O TIER 1 é um indicador que avalia a saúde financeira de um banco; consiste primariamente do capital próprio da instituição, mas pode também incluir acções preferenciais desde que estas não sejam resgatáveis. O rácio TIER 1 é o rácio do capital próprio do banco sobre os seus activos ponderados pelo risco, ou seja a totalidade dos activos detidos pelo banco, ponderados pelo risco de crédito.

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