sábado, 10 de julho de 2010

A PROPÓSITO DAS MANIFESTAÇÕES

Que pensar quando a imprensa pouco tem divulgado as reacções populares à proliferação por esta Europa de programas de austeridade e quando se constata que a Grécia (para falar apenas no caso mais mediático) cumpriu esta semana a sexta greve geral contra as medidas decididas pelo governo do socialista Geórgios Papandréu, na sequência dos apoios financeiros negociados com a UE e o FMI, para recuperação do défice grego.

É que mesmo notícias como as que surgiram sobre as manifestações que a CGTP promoveu esta semana no país, pouco ou nada mais adiantam que a habitual “guerra dos números” de participantes; sobre as razões que sustentam a contestação pouco se diz ou escreve, enquanto nos noticiários televisivos pouco mais se ouve que os chavões dos discursos e uma ou outra palavra de ordem repetida durante os desfiles.

Continua por fazer o debate sobre a situação de crise que atravessamos – salvo os habituais discursos do excesso de despesismo e da inevitabilidade das políticas de contenção –, sobre as suas origens e as alternativas que devem ser contempladas na definição das políticas para o seu combate.

As notícias sobre as movimentações populares são invariavelmente focadas apenas sobre o facto em si, raramente sobre as suas origens, quando não exclusivamente sobre as suas consequências imediatas – a conversão em motins – tenham estes tido origem espontânea ou até fruto dos próprios aparatos policiais.

Transformar as movimentações sociais de contestação às políticas orientadas para a degradação das condições económicas e sociais das populações em meras arruaças pode ser uma estratégia agradável àqueles que não apresentem capacidades para debater os problemas reais e as políticas com as quais dizem querer combatê-los, mas nunca pode ser aceite como prática informativa e ainda menos formativa.

Talvez por isso algumas vozes mais avisadas, da área do poder em Portugal, já vão deixando alertas para a necessidade do executivo justificar as políticas escolhidas e tentar mobilizar os cidadãos para uma austeridade que por vezes até designam como inevitabilidade.

Mas, será mesmo assim?

Não haverá mesmo nenhuma alternativa viável para as políticas que foram anunciadas?

Poderá aceitar-se de bom grado – e em silêncio – que os sectores que originaram a crise venham a sair dela beneficiados, enquanto a generalidade das populações vai ter de suportar a maior parte dos sacrifícios?

Alguém acreditará de forma convicta (e honesta) que as políticas anunciadas como de recuperação económica poderão ser as orientadas para a redução do poder de compra das economias e ser conduzidas a bom porto pelos mesmos que nunca levantaram a mínima objecção aos ideólogos do ultra-liberalismo?

Por estar em crer que a resposta a estas questões é negativa e porque – pelo menos em teoria – existem verdadeiras alternativas é que o debate é indispensável e urgente e as movimentações sociais deveriam servir como detonador dos debates que persistem em ser silenciados.

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