sábado, 17 de julho de 2010

PESSIMISMOS?

Ainda a propósito do tema do último “post” não será displicente recordar aqui o que Manuel Maria Carrilho escreveu a propósito dos pessimistas – aqueles que assim foram apodados por terem levantado dúvidas sobre o melhor dos mundos em que funcionava a economia global ou, melhor dizendo, a propósito dos que, no auge da euforia, lembram a inevitabilidade do desalento próximo –, num artigo publicado no DN, justamente intitulado «Virtudes do pessimismo?».

Já no distante século XVI, retratando a euforia expansionista da época, Luís Vaz de Camões celebrizou a figura do Velho do Restelo, criando assim no riquíssimo vocabulário nacional mais um sinónimo sob uma forma poética; só que tal como então, também agora muita gente – demasiada gente – se esquece que um pessimista não passa, geralmente, de um optimista realista.

Tão realista que apenas sorri quando lê na crónica de Manuel Maria Carrilho que «...agora o que se percebe é que os Estados, para salvarem os bancos, tiveram de - via emissão de obrigações - recorrer aos próprios bancos, que assim vivem com "passivos" constituídos pelo dinheiro que os Estados lhes emprestaram e com "activos" constituídos exactamente pelo mesmo dinheiro, depois emprestado aos Estados. E neste jogo andaram envolvidos, em toda a Europa, cerca de dois biliões e meio de euros» e mantém a esperança de que haja cada vez mais pessoas a interrogarem-se (e a pensarem) porque é que “estas coisas acontecem”...

Ou se limita a recordar que todos os sistemas financeiros assentam numa única premissa – a da confiança – quando lembram «...como há um ano, na Europa, no auge da crise financeira e das suas consequências, se garantia que, com o euro, tínhamos criado uma verdadeira - e esta palavra foi mil vezes repetida - fortaleza! Viu-se. Em poucos meses, o que se descobriu foi que a fortaleza tinha sido construída sobre areias movediças, e que agora o euro é, precisamente, o principal problema da Europa, e não só. Os cidadãos descobrem com estupefacção que o que era apresentado como um dos maiores trunfos da União Europeia se revela, de um dia para o outro, como a maior das suas fragilidades. Das vantagens da não desvalorização do euro passou-se às tremendas consequências da impossibilidade dessa mesma desvalorização para repor a competitividade e revitalizar as economias mais fragilizadas. E do elogiado retorno do Estado passa-se, de repente, à descoberta de um endividamento público que deixa a União Europeia à beira do abismo!»

Terão os governantes que tão prontamente acorreram a salvar os bancos entendido a real dimensão da sua decisão? E os seus parceiros da oposição (sempre tão lestos a criticar as políticas que acarretam o endividamento das gerações vindouras) foram igualmente incapazes de entenderem o fenómeno? Ou, pelo contrário, uns e outros sabiam bem o que estavam a fazer e quais os interesses que estavam a defender?

Eis o tipo de dúvida que não enrola apenas palavras vãs à volta de uma evidência que todos pressentimos; não se trata apenas de avaliar responsabilidades mas principalmente de aferir capacidades – e vontades – para uma efectiva mudança do que urge alterar – o modo de funcionamento dum sistema bancário alicerçado no efeito multiplicador do crédito e na pauperização de toda a sociedade para seu exclusivo benefício – em nome da melhoria geral.

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