Depois de há umas semanas ter apelado à contenção e à redução de despesas pelas famílias portuguesas (apelando à poupança de divisas e a um forte contributo para o reequilíbrio financeiro mediante a simples abdicação da realização de viagens ao estrangeiro), depois de na passada semana ter apontado, ex-cathedra, perante as câmaras da SIC os verdadeiros responsáveis pela crise que atravessamos (o despesismo dos líderes políticos que esqueceram a existência do Programa de Estabilidade e Crescimento comunitário[1]), eis que, segundo informa o PUBLICO nesta notícia, o Presidente da República se deslocou para Angola acompanhado «...da maior delegação de empresários de sempre...»; nada mais nada menos que 115 respeitáveis homens de negócios[2], além de três membros do Governo e a habitual delegação parlamentar.
Pretenderá Cavaco Silva impressionar o governo tal como nos idos de 1514 o então Rei de Portugal (Manuel de sua graça, ou o Venturoso de cognome) procurou impressionar a corte papal da época?
Não creio que o facto da economia angolana representar já o quarto maior cliente das exportações portuguesas e destas ascenderem em 2009 a mais de 2,2 mil milhões de euros, tenha sido o factor determinante daquele fenómeno; já o facto reconhecido das dívidas angolanas à economia portuguesa representarem cerca de 2 mil milhões de euros (90% do produto exportado em 2009) deverá constituir a principal razão para aquela anormalidade, pelo que a dimensão da comitiva presidencial constituirá uma mera função directa da dimensão daquelas dívidas e, quiçá, uma vã quimera na sua rápida regularização, apesar das notícias que hoje mesmo asseguravam que «Angola paga dívidas às PME portuguesas em dois meses».
[1] Ver a propósito esta notícia do ECONÓMICO: «Cavaco culpa líderes políticos por crise na Europa» e estoutra do JORNAL DE NEGÓCIOS: «A mensagem que passou foi gastem e ninguém se lembrou do PEC».
[2] A fazer fé nesta notícia do I, que confirma a enormidade da delegação, serão 135 os empresários que acompanham Cavaco Silva.
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