Esta máxima deve ser tida em especial atenção por todos quando lemos notícias como esta do THE NEW YORK TIMES que garante que «Dois gigantes emergem das ruínas de Wall Street», ou as que recentemente foram dando conta dos resultados dos grandes bancos norte-americanos no segundo trimestre deste ano1...
...revelando o que parece ser o regresso aos tempos áureos de Wall Street.
Os ventos poderão ser de particular feição para aqueles agentes financeiros que nunca exerceram outra actividade que não a de multiplicar créditos e especular sobre a possível evolução das empresas e das economias, mas como o demonstram os principais indicadores económicos e uma ou outra notícia o vai referindo2, a situação por terras do Tio Sam encontra-se muito longe do paraíso que alguns persistem em lobrigar.
Até mesmo entre nós há quem não perca a primeira oportunidade para “animar” o seus leitores e escreva3 que as «...bolsas europeias sobem pela sétima sessão consecutiva, registando o mais longo ciclo de subidas desde Agosto de 2007, graças aos resultados acima do esperado e aos indicadores económicos positivos. «...» A motivar os ganhos na Europa estão os resultados apresentados pelas empresas, em particular pelos bancos norte-americanos, que superaram todos os números que circulavam no mercado», talvez sem se aperceber que no essencial explicou a subida das bolsas por um fenómeno meramente emotivo e que pouco ou nada tem de real ou de sustentável4.
Senão vejamos...
Os bancos norte-americanos que agora apresentaram grandes resultados positivos são, não só aqueles em que a administração Bush injectou milhares de milhões de dólares para reequilibrar as suas tesourarias deficitárias mas ainda ajudou na aquisição de outros bancos de menor dimensão ou em situação financeira mais calamitosa.
Na prática, o que as notícias nos dizem é que os banqueiros de Wall Street já reiniciaram aquilo que melhor sabem fazer – especular – e que com isso estarão a ganhar muito dinheiro – tanto mais que a intervenção pública lhes assegurou financiamento a baixo preço e a aceitação social para a redução dos custos de estrutura, obtida à custa de despedimentos – mas também a contribuir para o adiamento da recuperação das economias porque, confirmam que o verdadeiro empenho dos governos tem sido a recuperação do sector financeiro e não a definição de um novo modelo de desenvolvimento económico.
A persistência em não aplicar medidas de efectiva reforma que reconduza o sistema financeiro ao papel que deve desempenhar na economia – o de distribuição de recursos financeiros entre aforradores e investidores – não contribui apenas para adiar o início da fase de recuperação, pode comprometê-la seriamente caso aumente o fosso entre as receitas da actividade especulativa e as das actividades produtivas.
Na actual conjuntura, manter uma política que recuse uma efectiva reforma do sistema financeiro poderá ser do interesse de Wall Street, mas seguramente virá a revelar-se ruinosa para os restantes sectores da economia e constitui um embrião garantido para o eclodir de nova crise. Como escreveu Paul Krugman num artigo recentemente publicado noutra edição do THE NEW YORK TIMES5, a propósito das alegrias da Goldman Sachs, «...ao apoiar o sector financeiro sem o reformar, Washington optou por nada fazer para nos proteger a todos de uma nova crise, de facto tornou-a bem mais provável».
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1 De que é exemplo esta notícia do ECONÓMICO que assegura que «Wall Street vive maior ciclo de ganhos em dois anos».
2 Ver a propósito o “post” «ASSIM VAI A AMÉRICA...».
3 A notícia pode ser lida aqui, na página do ECONÓMICO.
4 Embora mais centrado na perspectiva dos mercados de capitais, ver o “post” «CUIDADO COM AS EUFORIAS», no qual em Outubro de 2008 e em plena crise financeira já chamava a atenção para os primeiros sinais de que as elites financeiras não só nada haviam aprendido com mais aquela lição como se preparavam activamente para retomarem as práticas lesivas que originaram a crise que então se estava a agigantar.
5 O artigo «THE JOY OF SACHS» pode ser lido aqui.
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