O que deveria ter sido a notícia da semana – a cimeira do G8 que teve lugar em Itália – acabou por ser (como muita gente previa) uma não notícia, tal o vazio de novidades... que nem os habituais cabeçalhos da imprensa disfarçaram, nem os caricaturistas deixaram escapar o evidente desentendimento e desarticulação entre os grandes líderes mundiais.
Os que alimentaram algumas expectativas para esta reunião do G8 (uma fórmula e um modelo que a crise económica tornou obsoleto enquanto fórum de verdadeiras decisões) não deixaram de sublinhar que o papel mais importante que poderá almejar será na elaboração de um novo modelo de regulação para a esfera financeira, mas à excepção de:
- um aparente concenso em torno da rejeição de políticas proteccionistas (veremos até que ponto o aprofundar da crise económica não fará soçobrar esta piedosa intenção);
- uma politicamente correcta declaração em favor do ambiente;
- o aumento da ajuda aos países mais pobres (medida que, mesmo orientada em moldes diferentes, não poderá deixar de ser entendida como extensão da apologia dos benefícios do comércio internacional);
nada mais se ouviu em resultado de uma reunião que deveria ter abordado muitas outras questões.
Entre estas conta-se, além do já referido e indispensável modelo de regulação financeira, a necessidade urgente de preparar a substituição do dólar norte-americano como moeda internacional hegemónica; esta questão não terá sequer sido abordada (em perfeita sintonia com os interesses norte-americanos), facto a que não foi seguramente estranha a súbita partida do presidente chinês, Hu Jintao, forçado a regressar a Pequim para enfrentar a questão dos tumultos que na região autónoma de Xinjiang opõem Uigures e chineses Han1 e que, do ponto de vista norte-americano de protecção da sua moeda, não podiam ter eclodido em melhor ocasião.
Com ou sem uma directa intervenção da China o dólar norte-americano caminha a passos largos para a inevitável substituição enquanto moeda de pagamentos internacionais2; nem os malabarismos de Obama e da sua administração conseguirão contrariar o inevitável e as hesitações (e os artifícios a que têm recorrido) para adiar a indispensável revisão do modelo de regulação apenas resultarão no aprofundamento da crise económica mundial e na crescente fragilidade da moeda norte-americana.
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1Xinjiang é uma província situada no noroeste da China, que dispõe de um estatuto de região autónoma, tal como o vizinho Tibet com o qual faz fronteira, cuja população se divide entre as etnias Uigur, de origem turcomena e de religião islâmica e Han, de origem chinesa.
2Exemplo disto mesmo é esta notícia da BLOOMBERG que sob título «Medvedev Shows Off Sample Coin of New ‘World Currency’ at G-8», vai deixando alguma informação sobre as necessidades e os anseios dos BRIC.
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