quinta-feira, 11 de setembro de 2008

SETE ANOS APÓS O 11 DE SETEMBRO DE 2001

Quando se cumpre o sétimo ano sobre a destruição do World Trade Center e poucos dias decorreram após George W Bush ter voltado a renovar por mais um ano a declaração de situação de emergência proclamada, ao abrigo do National Emergencies Act[1], no dia 14 de Setembro de 2001, que balanço pode ser feito daquele trágico acontecimento?

Além das cerca de 4.000 vítimas que produziu de imediato[2] e da polémica que ainda hoje subsiste em torno do que efectivamente ocorreu naquele dia[3], outras consequências podem ser associadas ao evento, das quais destaco:

  • as invasões do Afeganistão, a pretexto da intenção de captura do declarado responsável pelo atentado – Bin Laden – e da organização – Al Qaeda – que dizem liderar, e do Iraque, sob o duplamente falso argumento do apoio de Saddam Hussein à Al Qaeda e a Bin Laden e de um pretenso arsenal de armas de destruição em massa que nunca foi encontrado;
  • a instauração de um regime quase policial nos EUA, em resultado da aplicação de uma Lei de Emergência Nacional que amplia desmesuradamente os poderes presidenciais face ao controlo do Congresso e limita profundamente as liberdades e garantias individuais dos cidadãos daquele país, vedando-lhes as mais elementares condições de defesa, decisão que seguramente contribuiu para a criação de prisões especiais para os acusados de terrorismo, nomeadamente em Guantánamo;
  • a instalação, um pouco por todos os países ocidentais, de um clima de terror que, à excepção dos atentados de inspiração islâmica radical que ocorreram em Espanha, Reino Unido, raramente conheceu razões fundamentadas[4]; os outros vários atentados atribuídos à Al Qaeda ou a organizações radicais islâmicas tiveram lugar em países islâmicos (Marrocos, Tunísia, Egipto, Turquia, Arábia Saudita, Paquistão e Indonésia) ou antecederam o 11 de Setembro de 2001 e visaram interesses norte-americanos (Yemen, Quénia, Tanzânia);

que poderiam ter sido evitadas caso não imperasse em Washington um sentimento de sobranceria e de profundo desrespeito pelas regras e convenções de relacionamento entre estados. Não fora a dominância das teses neoconservadoras, principalmente as que sustentam o unilateralismo norte-americano, e talvez a insanidade que constituiu a destruição das Torres Gémeas não tivesse crescido em espiral e o mundo não conhecesse hoje uma situação pior que a que então registava.

A administração de George W Bush e o grupo dos “neocons” que a inspira geriram a crise do 11 de Setembro em manifesto benefício dos seus interesses específicos – o controlo das regiões produtoras de petróleo – e dos seus apoiantes – o aumento das despesas com o aparelho industrial-militar norte-americano – manipulando a informação por forma a impedir um real e efectivo esclarecimento dos acontecimentos. Foram rápidos a apontar o responsável mas, estranhamente (ou talvez não…), o mais poderoso e bem armado exército do planeta não conseguiu, nos quase sete anos que leva a ocupação do Afeganistão, encontrar Bin Laden. Foram rápidos a capitalizar o natural sentimento de revolta popular (americana e não só) mas igualmente expeditos a ignorar a avaliação da situação que os seus parceiros naturais (principalmente os países europeus) recomendavam e a mergulhar o mundo numa espiral de violência que não pode senão servir os interesses dos extremistas que dizem querer combater.

Enquanto se revelam cada vez mais difíceis de escamotear os desastrosos resultados da decisão de intervir militarmente no Médio Oriente[5] e não param de se avolumar as dúvidas sobre a real influência que o “lobby” judaico (quer por via directa quer pelas conhecidas ligações entre as principais figuras do movimento “neocon” e organizações judaicas) e as conhecidas ligações da família Bush e de Dick Cheney às grandes companhias petrolíferas terão tido nesta decisão, continuamos a assistir ao desenrolar de uma política de “afiar garras” de que os recentes desenvolvimentos no Cáucaso serão mais uma etapa...

...quem poderá espantar-se, sinceramente, do crescimento das chamadas teorias da conspiração?[6]
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[1] Lei de Emergência Nacional que estabelece poderes especiais ao presidente da federação pelo período de dois anos.
[2] Embora haja quem tente manter um registo actualizado (uma das principais entidades que o faz é a IRAQ BODY COUNT) das baixas militares e civis que têm ocorrido nos cenários de guerra que os EUA inflamaram, o seu número é objecto de alguma controvérsia, mas parece-me aceitável falar, entre civis e militares) em números próximos da centena de milhares.
[3] Sobre esta questão existe abundante informação disponível na Internet (qualquer motor de busca produzirá milhares de entradas relacionadas com as Torres Gémeas e o 11 de Setembro) incluindo alguns “posts” que produzi sobre o assunto: «11 DE SETEMBRO DE 2001», no ano passado e «NINE ELEVEN – PARTE I», «NINE ELEVEN – PARTE II», «NINE ELEVEN – PARTE III» e «COM ISSO NÃO SE BRINCA», em 2006.
[4] À parte os atentados nas redes de transportes em Espanha e no Reino Unido, dos quais resultaram um elevado número de mortos e feridos, muitas outras notícias surgiram a propósito de planos para o envenenamento de depósitos de água, de deflagração de pequenos engenhos nucleares e de disseminação de virús e outros químicos (antrax), quase todas acabando por se revelarem infundadas ou simplesmente alarmistas.
[5] Sobre os elevados custos da intervenção militar norte-americana, ver este artigo da BBC e quanto aos resultados práticos na eliminação da Al Qaeda, ver este outro do COURRIER INTERNATIONAL.
[6] Ainda há cerca de dois meses a BBC divulgava um artigo «The evolution of a conspiracy theory» que sintetiza muito bem as diferentes abordagens sobre esta questão.

1 comentário:

FABIO ROOS disse...

cara, peguei uma foto tua, estão os créditos lá e tudo mais.