Embora o calendário anuncie o fim da “silly season”, parece que este ano ela se irá prolongar um pouco mais entre nós, pelo menos a atestar pelas expectativas deixadas pela entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa que o DIÁRIO ECONÓMICO publicou na passada segunda-feira.
A crer-se nas grandes capacidades premonitórias deste “guru”[1] nacional, os tempos políticos que se aproximam serão de capital importância, não só porque a reservada líder do PSD irá fazer-se ouvir no próximo fim-de-semana, na sessão de encerramento da Universidade de Verão do PSD, mas porque o deve fazer de forma a elevar a fasquia dos objectivos e a mobilizar o PSD.
Para este incontornável comentador da realidade política nacional, que sustentado na pose doutoral de professor universitário apresenta ainda no seu currículo o facto de já ter sido líder do PSD e candidato a presidente da autarquia lisboeta, o mutismo da líder do principal partido da oposição não tem sido particularmente negativo, mas deve agora vir a público apresentar os objectivos políticos de um partido que, diz Marcelo Rebelo de Sousa «...está há muito tempo fora do Governo».
Estranha expressão, considerando que o tempo de afastamento do poder se resume ao da vigência do actual governo (cerca de três anos) e deve ser entendido como algo de absolutamente normal num regime que se pretende democrático, mas mais ainda o é na boca de alguém que, de forma nunca assumida mas sempre subjacente, se apresenta como um “fazedor de reis”. Lapso linguistico ou natural descuido de um dos “barões” do PSD?
Se assim pensa Marcelo Rebelo de Sousa, que integra o restrito círculo dos membros do Conselho de Estado[2], até onde montarão as ânsias dos muitos notáveis que abundam no PSD e ao abrigo do qual têm parasitado governos e altas funções, lucrando consideráveis prebendas?
Ao que tudo indica, o real problema do PSD não é o do silêncio da sua líder (que outro notável comentador político do PSD, Pacheco Pereira, designa eufemisticamente de necessária pausa para meditação) antes o da incapacidade das suas “elites” sobreviverem fora dos “corredores do poder”.
Fico curioso para ver como é que Marcelo Rebelo de Sousa analisará, do alto da sua cátedra, o próximo ciclo eleitoral nacional e os políticos que a ele se candidatarão?
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[1] Guru, termo original do sânscrito que designa um professor ou um profundo conhecedor de uma corrente de pensamento (ou filosofia); actualmente o termo "guru" é empregue para identificar alguém que tenha seguidores, ainda que informalmente, ou para designar alguém que tem autoridade por causa do seu conhecimento ou prática em alguma matéria.
[2] O Conselho de Estado é o órgão político de consulta do Presidente da República, ao qual compete pronunciar-se sobre um conjunto de actos da responsabilidade do Presidente da República, aconselhar o Presidente, no exercício das suas funções, sempre que ele o solicite. O Conselho de Estado é constituído por membros que o são por inerência dos cargos que desempenham ou que ocuparam e por membros designados pelo Presidente da República e eleitos pela Assembleia da República. A lista completa dos actuais membro pode ser consultada aqui.
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