quinta-feira, 7 de agosto de 2008

OLÍMPICAS RUÍNAS

Quando estamos a poucas horas do início dos XXIX Jogos Olímpicos da era moderna, que irão decorrer na China[1], parece-me oportuno recordar uma notícia que li há dias no COURRIER INTERNATIONAL sobre o rescaldo da edição anterior.

Realizados em Atenas (país de origem histórica dos Jogos e onde, em 1896, se realizou a primeira edição da sua versão moderna) viram-se também envolvidos em alguma polémica – não de natureza política como tem acontecido com Pequim, mas devido ao atraso nas obras previstas – que a esta distância e perante os resultados pode bem ser considerada de pequena monta.
Outro tanto não poderá ser dito das consequências que se seguiram aos Jogos. Desde o disparar da inflação até aos enormes custos com o endividamento que ainda hoje a economia grega suporta, para culminar na tristíssima situação de a maioria das instalações então construídas se encontrarem hoje votadas ao abandono.

Além da óbvia enormidade que constitui o desperdício de meios e recursos (pior ainda quando estes tiveram de ser obtidos mediante endividamento público) é ainda triste quando se constata que à escassez de meios se associou a incapacidade para gerar ideias e projectos capazes de reaproveitarem as infraestruturas construídas.

Este problema, que não é exclusivo dos gregos[2], aumenta ainda mais a relevância da ideia que aqui defendi há tempos – os Jogos Olímpicos deveriam realizar-se SEMPRE na Grécia, devendo os custos da construção e manutenção das indispensáveis estruturas físicas ser repartido por todos os países participantes.

Desta forma não só se respeitava uma ainda maior identificação com os tradicionais Jogos Olímpicos, como se evitava a repetição das tristes cenas dos boicotes políticos[3] ou toda a polémica que tem rodeado os actuais jogos que mais parece terem sido atribuídos à China para melhor atacar o regime chinês.
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[1] Embora a cerimónia oficial de abertura se realize apenas amanhã, as primeiras competições tiveram lugar há já 48 horas; mais uma das incongruências seguramente explicadas pelos interesses das cadeias de televisão.
[2] Veja-se o que ocorreu entre nós com alguns dos estádios construídos para o EURO 2004 e não esqueçamos que o sucesso da reconversão do espaço da EXPO 98 não pode ser encarado como a regra, mas sim como a excepção.
[3] Referência à política de boicotes que durante o período da Guerra Fria americanos e russos aplicaram aos jogos realizados no terreno do “adversário” – Moscovo em 1980, Los Angeles quatro anos depois e Atlanta em 1996.

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