quinta-feira, 28 de agosto de 2008

SEGURANÇA

Têm abundado, nas últimas semanas, todo o tipo de notícias envolvendo actividades as mais diversas actividades criminosas. Desde o assalto e sequestro na Agência do BES em Campolide, aos roubos de caixas Multibanco e a postos de gasolina, ao “carjaking”, aos desacatos em bairros periféricos de Lisboa e ao ponto alto que foi o assalto à viatura de transporte de valores da PROSSEGUR, no passado dia 20 em Aljustrel, que não passa um dia sem notícia nova e jornais e televisão vão acentuando o clima de insegurança que se vive.

A notícia de que o Procurador-geral da República iria hoje pronunciar-se sobre esta matéria elevou o meu grau de atenção para o assunto (como deve ter sucedido com muita gente); de pronto comecei a percorrer as notícias à procura da novidade e logo pela manhãzinha o geralmente bem informado DIÁRIO DE NOTÍCIAS me deu conta que não só o «PGR quer mais julgamentos rápidos» como a estratégia por ele gizada, que passa por uma melhor coordenação entre os organismos da administração central encarregues de matérias de segurança e entre as diversas forças policiais que operam no terreno e o Ministério Público, foi devidamente coordenada com o governo de José Sócrates.

Dito assim, isto não merecia maior gasto de tempo. Porém, no mesmo jornal encontrei outro título que despertou a minha atenção; quando li que «Observatório fala em subida sazonal de crime» e constatei no corpo da notícia que o presidente do Observatório de Segurança (General Garcia Leandro) faz uma leitura diversa da situação e para ele se o aumento da criminalidade se deve «…ao número de armas ilegais e sem controlo, aos guetos que se vão criando nas cidades e à difícil inclusão social e à crise que o país atravessa…» também é preciso avaliar se é um fenómeno sazonal ou não e não deixa de apontar dois factos importantes: 1) o assalto à carrinha da PROSSEGUR apresenta contornos de grande profissionalismo por parte dos assaltantes e de grande irresponsabilidade por parte da empresa; 2) os assaltos realizados a bancos revelam grande amadorismo e um crescente cuidado destes com as questões de segurança, de tal forma que o rendimento dos assaltos é invariavelmente reduzido.

Esta perspectiva diferente, de alguém que acompanha de forma regular as questões de segurança e não deixou de referir os números estatísticos disponíveis[1] cimentou uma ideia que há algum tempo venho amadurecendo sobre esta questão: estaremos a assistir a um real fenómeno de erupção de violência e criminalidade no país ou este sucessivo bombardeamento informativo tem finalidade diversa?

Fazendo fé nas declarações do responsável pelo Gabinete Coordenador de Segurança, o general Leonel de Carvalho, que, conforme refere o DIÁRIO DIGITAL, reconhece um aumento da ordem dos 10% na criminalidade violenta, mas entende que «sendo preocupante, [a situação] não tem a dimensão que os órgãos de comunicação têm tentado transmitir à opinião pública». Se, pelos vistos, parece aceitável a ideia de que parte do fenómeno da actual violência resultará da dimensão jornalística que lhe estará a ser dado, porque é que tal acontece?

Serão as famigeradas ditaduras das audiências as únicas responsáveis pela situação, ou a real justificação é bem mais prosaica e distinta?

Infelizmente, a atestar por uma notícia do DIÁRIO IOL que assegura que já existem iniciativas em que «Privados propõem substituir polícias em bairros difíceis» tudo poderá não passar de uma manobra para “facilitar” a criação de mais uma grande oportunidade de negócio…

… e daqui até ao pesadelo orwelliano do BIG BROTHER basta continuar a agitar mais fantasmas de assaltos e assaltantes para conseguir a anuência dos mais temerosos e dos incautos.
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[1] A referida notícia do DN termina assim: «Apesar dos recentes crimes violentos, em 2007 registou-se uma diminuição de 10,5% deste tipo de criminalidade. De acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna, em 2007 houve um decréscimo de 2587 crimes violentos e graves face a 2006.
A contrariar a descida generalizada estiveram crimes como carjaking (roubo violento de veículos na presença do condutor), roubos a tesourarias, estações de correios, postos de abastecimento e roubo ou furto por esticão, que registaram mais ocorrências. O carjaking subiu de 365, em 2006, para 488 no ano passado. Os roubos a tesourarias ou estações de correios aumentaram 23% e os assaltos às bombas de gasolina passaram de 222 para 241.
Os casos de furto e roubos por esticão chegaram aos 5424, depois dos 5378 de 2006

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