Imagens deste tipo (ou ainda mais horríveis) começaram ontem a correr mundo, após mais uma explosão num “pipeline” nigeriano.
O número de mortos varia conforme as fontes, mas serão seguramente às centenas (mencionam-se 300 a 700 mortos, sem contabilizar os feridos e os que virão mais tarde a morrer por absoluta falta de tratamento adequado), mas o mais grave é que isto não resultou de uma catástrofe pontual (o número de acidentes desta natureza é elevado e constante na região) e muito menos de uma calamidade inevitável.
Tudo terá começado por mais um furto de combustível perpetrado no país africano que é o principal produtor de petróleo do continente. Para quem não entenda este paradoxo – um país que exporta petróleo e cuja população sobrevive do regular roubo de combustível – convém explicar porque é isto aconteceu.
A Nigéria, ex-colónia britânica, conheceu desde a sua independência, em 1960, sucessivos governos de origem militar, frutos de constantes golpes e contragolpes que conduziram uma próspera economia agrícola (em tempos foi um importante produtor regional) a um estado de depauperamento tal que se vê hoje reduzido à extracção e exportação de petróleo. Com uma economia débil e quase exclusivamente dependente de um sector onde são indispensáveis os investimentos de capital intensivo (algo que para os nigerianos é completamente irrealizável), até cair na alçada das grandes transnacionais do sector foi um pequeno passo. Esta dependência é particularmente visível quando um país exportador de ramas petrolíferas atravessa regulares crises de abastecimento de combustíveis, facto que originou a criação de um mercado paralelo particularmente activo e onde as margens de lucro (os combustíveis neste mercado chegam a atingir o quadruplo do registado no mercado oficial) são altamente atractivas.
As formas ineficientes de governo e os elevados níveis de corrupção que o país regista determinaram que parte significativa da população viva abaixo do limiar de pobreza e condenada a sobreviver mediante o recurso a expedientes, como o do roubo de combustível. Sempre que os grupos organizados procedem a mais uma operação de “recolha” (que normalmente consiste em perfurar um “pipeline” e transferir o respectivo combustível para camiões cisterna), a população local acorre e recolhe as sobras que conseguir alcançar. Terá sido nesta fase que se terá dado a explosão ontem registada.
Os milhares mortos que “acidentes” desta natureza já provocaram (estimam-se em mais de 2.000) tinham a obrigação de já ter motivado os “senhores da terra” para minimizarem semelhante tipo de riscos; porém, a extrema pobreza das populações e a extrema riqueza dos seus governantes são dois pólos de uma mesma corrente que não só se repelem, como o segundo destes revela o maior dos desprezos e desinteresses pelo primeiro.
Comentando a tragédia o presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, atribuiu a responsabilidade aos vândalos que danificaram o oleoduto e mostrou-se triste por actos como este continuarem a acontecer, apesar dos seus avisos sobre a respectiva ilegalidade e os perigos resultantes...
Sem comentários:
Enviar um comentário