domingo, 24 de dezembro de 2006

CONTO DE NATAL

Entre os povos de matriz cultural cristã esta é por excelência a época do ano em que se multiplicam a produção e a divulgação de pequenas histórias carregadas de valores culturais e religiosos, que apresentam em conclusão um fundo moralizador.

Como habitual nos contos, também o meu se inicia com:

«Era uma vez…

num país não muito distante (mas com um PIB e um nível salarial muito superiores aos nossos), uma pobre trabalhadora que como milhões de outras trabalhava por turnos. A regular mudança de horários não constituiu grande problema enquanto foi jovem e ainda não estava sujeita a grandes compromissos; época em que se mostrava mesmo disponível para prolongar o seu período de trabalho além do normal.

Porém, como sucede com muitas jovens chegou uma altura em que teve um filho e como o país onde vivia era muito desenvolvido e rico teve direito a licença de parto, após o que retomou o seu trabalho. Diga-se que a nossa heroína trabalhava para uma empresa muito grande que geria várias cafetarias em muitas cidades e vilas desse país e do estrangeiro e que quando voltou ao trabalho teve de procurar quem lhe tomasse conta do seu bebé durante essas horas. Tudo teria continuado a correr bem (apesar do trabalho por turnos e do baixo salário recebido) se as constantes mudanças dos horários de trabalho lhe não tivessem tornado impossível assegurar quem lhe cuidasse do filho.

Se antes do nascimento isso não foi problema de maior, agora as constantes e inopinadas mudanças de turnos e extensões do seu horário de trabalho tornavam-lhe a vida (e a do filho) num inferno.

Após dois anos, um esgotamento nervoso e uma proposta da empresa para ir trabalhar para outro local distante mais de cem quilómetros, que naturalmente recusou, determinaram o seu despedimento em pouco tempo.

Com pouco mais que a razão que lhe assistia e a coragem própria das heroínas das histórias, eis que a jovem mãe se dispõe a mover uma acção em tribunal contra a grande empresa que a despedira depois de lhe ter tornado insustentável a sua vida profissional.

Porque isto é um conto e passa-se num país que não o nosso, dois anos depois o tribunal de apelo decidiu condenar a grande empresa que gere cafetarias a indemnizar a ex-empregada e reconhecendo em simultâneo que foram as constantes mudanças de tarefas e horários de trabalho, utilizados regularmente como forma de gestão de pessoal e forma de pressão, as responsáveis pela doença, incapacidade e licenciamento da trabalhadora.

Desconhece-se se ela viveu feliz para sempre, mas para a história fica o reconhecimento e a condenação dos métodos de gestão utilizados.»

Embora tudo isto seja um conto (no nosso país será um verdadeiro conto de fadas) e portanto nada disto aconteceu e a semelhança com pessoas, lugares ou factos é mera coincidência, para aqueles que não acreditam em histórias (nem nas de Natal) aqui fica o endereço onde conhecer a origem do conto.

Sem comentários: