sábado, 2 de setembro de 2006

NACIONAL PORREIRISMO

Imagens bem claras do que há muito se designa pelo “nacional porreirismo” voltaram a ter esta semana com as notícias sobre os resultados dos exames nacionais do 9º ano, realizados em 2005, e sobre a controversa decisão de continuar o processo de desmantelamento de barracas na Azinhaga dos Besouros.

Com o início de mais um ano lectivo à porta dois dos principais matutinos nacionais noticiaram os resultados dos exames do 9º ano realizados em 2005. Segundo dados do Ministério da Educação a taxa de reprovações subiu de 12,5% (valor registado no ano lectivo 2003/2004, no qual não houve exames finais às disciplinas de Português e Matemática) para 19,9%. Com apenas um peso de 25% para a nota final, ainda assim as classificações dos exames nacionais foram responsáveis por mais 7.400 retenções que no ano lectivo anterior.

Como se não bastasse a frieza dos números e a demora na sua divulgação, estes resultados são apresentados pelo Ministério da Educação mais de um ano após as provas, o facto deterem sido conhecidos nas vésperas de arranque de mais um ano lectivo parece-me desmentir completamente os responsáveis por aquele ministério quando vêm dizer que aqueles resultados têm o mérito de poder marcar um ponto de viragem.

Se parece ser um dado adquirido para o Ministério da Educação que o problema resultará não da falta de recursos, mas sim da falta de organização e que os responsáveis esperam ver resolvido com as novas medidas de reforço do poder e autonomia escolares, então como poderemos esperar que o ano lectivo de 2006/2007 marque uma efectiva viragem se no que respeita ao tal reforço do poder e autonomia escolares pouco mudou do ano lectivo anterior para este?

Enquanto o ministério fala numa clara insuficiência de aprendizagens (e recordo que no 9º ano apenas são realizados exames às disciplinas de Português e Matemática), organizações profissionais vêm alertar para o facto de se estarem a sujeitar jovens de 13 e 14 anos a um processo de avaliação de aprendizagem baseado num teste de hora e meia.

Infelizmente continuamos a assistir a um diálogo de surdos entre Ministério da Educação e as estruturas profissionais que representam os docentes, com ambas (e principalmente as últimas) a esquecerem que a finalidade do sistema educativo é a de proporcionar aos jovens meios e ferramentas orientadas para a aquisição de conhecimentos e formação de competências. As escolas deverão existir para formar jovens que deverão ao longo do tempo de permanência nelas adquirir o maior volume possível de conhecimentos e competências e os docentes (e demais profissionais de educação) deverão ser os agentes difusores e catalizadores desse conhecimento.

Contrariamente ao que pretendem as associações profissionais e muitas estruturas representativas dos encarregados de educação, não vejo que da realização regular de exames a todas as disciplinas possa resultar qualquer prejuízo para os jovens; pelo contrário, prejudicial é a situação que se tem vivido em que os jovens apenas realizavam exames no 12º ano (exames estes fundamentais para a continuação de estudos), apresentando-se a estes sem qualquer preparação ou experiência anterior.

Só quem queira manter uma situação de benefício pode conscientemente defender a ideia de que os jovens não devem ao longo do seu percurso académico ser submetidos a exames regulares, como se na vida profissional que os aguarda estes não venham a ser submetidos a situações de idêntico grau de «stress» e com uma forte probabilidade do grau de “injustiça” ainda ser maior.

Como se não bastasse este tipo de problemas e de abordagens para falar no despudorado à vontade com que entre nós se abordam questões tão fundamentais como a educação (sejam os seus resultados sejam os métodos aplicados), ainda assistimos nos últimos dias à continuação do processo de demolições, da responsabilidade da Câmara Municipal da Amadora, na Azinhaga dos Besouros.

Independentemente da justeza da decisão da autarquia e do seu empenhamento em reduzir a elevada quantidade de habitação clandestina que existe na área da sua jurisdição, o que ninguém de boa fé pode negar é que imagens como aquelas a que nos foi dado assistir parecem mais extraídas de uma qualquer acção de desalojamento de colonos judeus ou de palestinianos decretada pelo governo israelita, que de iniciativas seriamente ponderadas, devidamente preparadas e nas quais as famílias desalojadas sejam reencaminhadas para novas habitações ou soluções alternativas humanamente dignas e aceitáveis.

Por maior razão que os responsáveis da autarquia possam ter, fazer acompanhar acções daquele tipo de um vasto aparato policial apenas serve para oferecer argumentos aos que contestem o desalojamento e aos que sempre atiram a responsabilidade pelos desmandos e desacatos às minorias que continuamos a ver viver em condições degradantes nos subúrbios das nossas principais cidades.

Que haja necessidade de introduzir planeamento no caótico tecido urbano do concelho da Amadora só duvidará quem nunca por lá tentou circular, mas nada obriga a que as famílias desalojadas sejam tratadas da forma que agora vimos. Depois também não é de estranhar que logo tenham surgido vozes a contestar a iniciativa, baseadas no simples facto de que a urgência do desalojamento resulta da necessidade de abrir uma estrada de acesso a uma moderna área comercial.

Verdade ou mentira, em breve tiraremos a dúvida!

Certo, para já, é que tudo isto continua a ocorrer no país de brandos costumes que somos todos nós!

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