quarta-feira, 9 de junho de 2010

A CRISE E AS SOLUÇÕES

As notícias que não param de surgir sobre o evoluir (ou simples regredir) da situação económica e financeira na Europa – como as que noticiaram que a «Hungria admite bancarrota», ou como a que reporta o resultado de uma sondagem predizendo que a «Grécia deve entrar em incumprimento e sair da zona euro» - com as quais o ECONÓMICO nos bombardeia regularmente e que deveriam motivar outros comentários além das curtas e secas referências que mereceram, nãos e comparam em grau de desinformação com estoutra que, da mesma forma sintética e desinteressante, informa que «Sarkozy e Merkel pedem a Barroso para proibir ‘naked short-selling’».

É que mesmo entendo a necessidade de coordenar medidas no seio da UE, nada impede os dois distintos governantes das duas maiores economias daquela união económica e da Zona Euro de, simultaneamente com a proposta, procederem à proibição daquela prática nos respectivos territórios, salvo o facto de ambos pretenderem simplesmente transmitir a ideia de que estão a actuar para conter os desmandos da actividade financeira sem nada fazerem na prática.


Não só pelo simples facto de dois dos três principais mercados de capitais (Nova York, Londres e Tóquio) se localizarem fora do território da UE mas também porque existem outros subterfúgios (nomeadamente através de operações realizadas por empresas sediadas em “off-shores”) que assegurarão a perenidade do modelo financeiro especulativo que conhecemos, mas também porque enquanto os políticos e burocratas de Bruxelas discutirem o assunto tudo continuará a funcionar como antes.


Este é aliás apenas mais um exemplo do completo desnorte (será mesmo real ou tudo não passará de uma monumental encenação para que assim o pareça) que parece grassar nas capitais europeias perante o que já começou a ser classificado como uma mera manobra especulativa contra a moeda única.

Quando diariamente surgem notícias de comentários e críticas emitidas por altos responsáveis comunitários sobre a situação financeira de alguns estados-membros, que no mesmo dia ou No dia seguinte são objecto de correcções, ou quando os dirigentes anunciam medidas contraditórias, que outra coisa deve ser entendida?


O estado de calamidade também já estará a atingir as capacidades intelectuais dos nossos dirigentes ou estes simplesmente estão envolvidos no próprio embuste que dizem estar a combater?


O mesmo tipo de questão pode ser levantado à notícia que o TELEGRAPH publicou há dias e que reproduzindo o resultado a uma sondagem realizada a um quarteirão de economistas da City londrina[1], assegura que o euro desaparecerá em cinco anos[2]; sendo que a esta acresce ainda o facto de todos os “especialistas” consultados operarem num mercado e numa divisa hostil ao Euro e sobre cuja periclitante saúde financeira têm surgido algumas notícias[3].


Á míngua de um efectivo debate sobre as grandes questões de fundo – como actuar para melhor ultrapassarmos a situação de crise que vivemos – e num mundo cada vez mais agitado pelas preocupantes notícias sobre o desemprego crescente e cada vez menos esclarecido pelos órgãos de informação que, divulgam os discursos de circunstância dos políticos ou a conveniente desinformação dos especialistas financiados pelo actividade financeira especulativa, em pouco ou nada contribuem para o esclarecimento das grandes questões e das grandes opções de combate à crise, resta-nos continuar a repetir que o cerne da questão reside precisamente onde raramente é apontado: no centro de um modelo de crescimento instantâneo sustentado na especulação financeira, cada vez mais desligado da esfera produtiva das economias e agravado por um modelo enviesado de distribuição da riqueza efectivamente produzida que a tem concentrado num segmento muito restrito da população.
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[1] A City é a designação pela qual é vulgarmente conhecida o mercado de capitais londrino.
[2] A notícia pode ser lida aqui ou nestoutra do DN que refere a mesma fonte.
[3] Sobre a situação das finanças públicas inglesas e da libra ver, por exemplo, a notícia do PUBLICO que divulgou que «Reino Unido corta a fundo na despesa para travar o défice» ou esta da BBC que informa sobre os avisos deixados pelo novo primeiro-ministro sobre o défice.

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