quinta-feira, 10 de junho de 2010

A CHINAMÉRICA

Quase completamente ignorada nas notícias difundidas no país, mas com uma relevância proporcional à da economia onde se registam os factos, são as notícias que vão chegando do crescimento do número e da importância das greves que se têm registado na China.

É verdade, o Império do Meio vem registando algo que há uns anos era impensável. A par com a criação de uma classe empresarial tem-se registado um ressurgimento dos movimentos (e das reivindicações) operárias.

O país que realizou um processo de transição do maoísmo para um capitalismo de Estado, está a registar agora reivindicações operárias, com greves e até com vagas de suicídios como recentemente ocorreram em França.


Em termos concretos não só o construtor de automóveis japonês, Honda, tem visto alguns dos seus fornecedores
[1] atingidos por aquela calamidade como esta tem alcançado proporções tais que a própria produção das suas unidades locais tem sido afectada, facto tanto mais preocupante quanto aquele construtor pretendia aumentar a sua produção local[2] para aproveitar o crescimento da procura que o mercado chinês regista.


Como uma desgraça nunca vem só, não apenas a Honda se debate com as dificuldades referidas como uma unidade local fornecedora de multinacionais como a Apple e a Hewlett Packard, a Foxconn, se está a confrontar com uma vaga de suicídios entre os seus trabalhadores que nem o anúncio de aumentos salariais da ordem dos 70%
[3] parece ter resolvido.


Aliás a oposição dos trabalhadores chineses às miseráveis condições salariais originou já os primeiros confrontos com forças da ordem; estes ocorreram na província de Jiangsu e foram protagonizados por trabalhadores da KOK Machinery (empresa que fabrica componentes em borracha) quando se viram impedidos de desfilar pelas ruas em defesa de melhores salários e melhores condições de trabalho, tendo resultado uma centena de feridos.


Mais do que a denúncia daquilo que humoristicamente alguns já designam pela Chinamérica, importa notar que, na China como em muitos outros locais, as miseráveis condições de trabalho já começam a movimentar as populações e nem os regimes mais opressivos o conseguirão impedir sempre.
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[1] Nomeadamente a Foshan Fengfu Autoparts, fabricante de sistemas de escape.
[2] Notícias dão conta da intenção da Honda aumentar a sua produção na China, das actuais 650.000 viaturas para 800.000.
[3] Note-se que o “generoso” aumento se traduz em subir os salários para valores entre os 1.200 e os 2.000 yuans, ou seja uns extraordinários 245 euros.

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