quarta-feira, 23 de junho de 2010

GENERAIS, MINERAIS E OUTROS QUE TAIS...

Enquanto a imprensa (em especial a norte-americana) continuava ocupada com a importante questão de saber se o actual comandante das tropas ocidentais será ou não substituído[1] na sequência de uma estranha entrevista onde o General McChrystal não poupa Obama nem a Casa Branca, pouco ou nada se publica relativamente à questão afegã.

McChrystal já “rolou”[2], mas isso em pouco deverá afectar a situação concreta no terreno...

...tanto mais que jornalistas, analistas e comentadores continuam sem apontar de forma clara o conjunto de razões que estará por detrás do insucesso militar, já que dos políticos que nos enredaram no problema será impossível uma apreciação isenta do problema.


Dificilmente serão arquitectadas soluções para o problema enquanto não se compreender que as tropas da NATO serão sempre vistas como um exército ocupante e que os resistentes contam – e contarão – com um apoio incondicional das populações porque beneficiam de todo o tipo de laços (familiares, étnicos, culturais e religiosos) praticamente impossíveis de quebrar.

Depois, a táctica de bombardeamentos apenas tem contribuído para fortalecer e cimentar aqueles laços. Bem podem os responsáveis militares clamar que as baixas civis que têm provocado se devem principalmente ao facto dos resistentes se esconderem entre aqueles, pois isso apenas demonstra o apoio de que estes dispõem (sem esquecer o facto básico de que é impossível distinguir civis de milicianos num quadro de rebelião ou de guerrilha) e o facto daqueles laços serem bem mais fortes e estáveis que as lealdades que os ocidentais têm tentado comprar[3].

Até a inevitável exaltação de fundamentos religiosos para o conflito (por mais distantes e absurdos que possam parecer) prejudica profundamente as hipóteses de uma qualquer aproximação entre ocupantes e locais. Quando tudo parece erguer-se contra a presença militar estrangeira e até o factor religioso serve de mobilização para que as populações dos países fronteiriços resistam e se empenhem em acções de guerrilha contra as estruturas logísticas, torna-se difícil vislumbrar alguma saída para o conflito.

A acrescer a tudo isto surgiram também nos últimos dias notícias sobre recentes descobertas de importante jazidas de minérios no subsolo afegão[4]...

...facto que poderá ser interpretado de duas formas diferentes: seja como forma de “tranquilizar” os que têm investido na ocupação, seja como forma de aliciar mais participantes ou de aumentar a codícia dos actuais.
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[1] Veja-se a título de exemplo a notícia do I que diz que «Entrevista à Rolling Stone trama General norte-americano», a do PUBLICO informado que «Casa Branca admite afastar general McChrystal por entrevista explosiva» ou a do New York Times que não esconde que «McChrystal’s Fate in Limbo as He Prepares to Meet Obama» (A sorte de McChrystal paira no limbo enquanto este se prepara para encontro com Obama). Outra notícia, do Washington Post «Can Obama lose general without losing war?», serve-se do incidente para levantar dúvidas sobre o resultado do conflito, mas nunca sobre a sua fundamentação, há semelhança desta do DIÁRIO DIGITAL que atribui ao presidente afegão a seguinte afirmação: «Saída de general McChrystal pode atrapalhar conflito».
[2] Pelo menos é o que assegura o PUBLICO quando escreve que «Obama afasta McChrystal e Petraeus assume chefia das operações no Afeganistão».
[3] Esta afirmação deve ser entendida no sentido literal do termo, a avaliar por notícias como esta do JORNAL DE NOTÍCIAS que informa que «EUA investigam alegado financiamento dos talibã com fundos do Pentágono».
[4] Entre muitas veja-se esta do DN que assegura que «Afeganistão tem riqueza de um bilião em minérios».

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