Uma vez mais ao aproximar-se o início de um novo ano escolar voltamos a ver notícias que lá vão dando conta dos aumento registados naqueles bens de consumo[1], que ao abrigo da legislação em vigor e da recentemente promulgada pelo Presidente da República[2], são de aquisição obrigatória para todos os agregados familiares com jovens entre os 5 e os 18 anos, mesmo que a insuspeita APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros) tenha prontamente esclarecido que os aumentos registados nos últimos seis anos são inferiores à inflação acumulada no período[3].
Mesmo que tivesse ficado tranquilizado pelos cálculos da APEL, não podia deixar de persistir na ideia de que devia haver uma lei...que invertesse a prática que actualmente vigora de pseudo liberdade de escolha nos manuais escolares e que impedisse a produção de manuais escolares convertidos em cadernos de exercícios, logo impossíveis de reaproveitamento por outro aluno.
É que se cada vez há mais leis para regular o dia-a-dia dos cidadãos, estranho que governantes tão preocupados com o nosso bem estar nunca se tenham debruçado sobre o curioso universo dos livros escolares, salvo para garantirem a perpetuação do que não posso deixar de classificar como um dos grandes negócios do século português – o da produção e distribuição de milhões de manuais escolares que anualmente conhecem um único e rentável fim: o da destruição.
Nada tenho contra o princípio do alargamento da escolaridade obrigatória – salvo que se esta medida não ser acompanhada da indispensável aferição regular de conhecimentos e competências dos alunos não teremos como garantido um correspondente aumento do grau de conhecimentos e competências adquiridas – mas não posso deixar de questionar os custos que esta medida terá sobre os cada vez mais magros orçamentos familiares.
O modelo que está instituído e que anualmente acarreta um custo por aluno em idade escolar de várias centenas de euros (o valor é naturalmente um função directa do grau de escolaridade frequentado) pode e deve ser questionado, pois já cansa assistirmos ao esbanjamento anual de milhões de euros em livros escolares[4], impossíveis de reaproveitar (seja no seio da mesma família ou não) graças à insensibilidade de governantes que se têm revelado mais preocupados com a perpetuação do negócio das editoras que com a salvaguarda dos interesses das famílias.
E já agora porque não olhar também para o número desproporcionado de manuais e outros materiais de estudo que os jovens têm que carregar diariamente?
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[1] Como exemplo mais recentes veja-se a do I ONLINE que diz que «Preço dos manuais escolares subiu 4.5% mas é compensado no material escolar».
[2] Ver a notícia do PUBLICO intitulada «Cavaco Silva promulgou alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos».
[3] A informação pode ser confirmada nesta notícia do PUBLICO.
[4] Uma ideia do valor deste mercado pode ser obtido a partir de uma simples estimativa. A população portuguesa em idade escolar deve rondar os 1,5 milhões de alunos e se considerarmos um valor médio de gastos anuais em material escolar (livros e outro material) da ordem dos 200€ (valor que deve ser inferior à média de gasto real) facilmente se obtém um volume de negócios da ordem dos 300 milhões de euros.
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