terça-feira, 22 de setembro de 2009

MAIS QUE UM JORNAL DE CAMPANHA

Entrados na recta final da campanha eleitoral para as eleições legislativas que comentário se poderá fazer desde já?

Além das habituais trocas de “galhardetes” e de picardias entre as duas principais forças em contenda, do desenterrar dos baús do tempo velhos, e menos velhos, argumentos, em que é que a campanha eleitoral contribuiu para o esclarecimento dos eleitores?

Alguém ouviu dos postulantes da área do governo uma proposta com princípio, meio e fim para o combate à recessão económica?

É que se dos populistas do CDS não será de estranhar que se concentrem nos temas que mais facilmente poderão mobilizar o seu eleitorado natural – a segurança, a autoridade, o combate à imigração – e que agora quase tenham recuperado a famigerada “maioria silenciosa, que do PCP se continuem a ouvir propostas de defesa dos “interesses dos trabalhadores”, ou que os “bloquistas” oscilem entre os temas de natureza económica e os de âmbito social (a eles pertenceram as primeiras campanhas contra a discriminação de minorias), já dos partidos que se dizem candidatos a governar o País terá que se estranhar o quase silêncio em torno das grandes questões de fundo.
A um e outro não pode bastar o lançamento de uma ou outra proposta avulsa, num ou outro discurso mais inflamado ou motivado pelos resultados menos abonatórios de uma ou outra sondagem. De concreto que foi que ouvimos de Sócrates ou de Manuela Ferreira Leite? A promessa de continuidade do primeiro e propostas de mudança da segunda, ou um mero arrazoado de discursos mais ou menos repetidos, com o recurso a chavões gastos e que em eleições anteriores, quer um partido quer o outro prontamente esqueceram após as eleições.

Alguém de boa fé e memória saudável pode acreditar em Manuela Ferreira Leite quando esta afirma que não irá aumentar os impostos, quando em 2002, na qualidade de Ministra de Estado e das Finanças do governo chefiado por Durão Barroso, decretou um aumento dos impostos apesar das promessas em sentido contrário que aquele fizera? ou nos recém assumidos ares de humildade assumidos por José Sócrates fazer esquecer a sobranceria e arrogância que dominaram a sua passagem por São Bento?

Respondidas (ou não) estas questões, outras se colocam de pronto, como a do “diálogo” que Sócrates e Manuela Ferreira Leite têm mantido a propósito da questão dos grandes investimentos públicos – alguém os ouviu explicar de forma fundamentada as suas opções?

Com as primeiras sondagens a prenunciarem um empate técnico a pressão sobre os partidos do “centrão” aumentou… o que de modo algum pode servir de justificação para as “boutades” de Manuela Ferreira Leite, que em cada dia que passa revela uma confrangedora falta de conhecimentos e convicções. Para não alongar, recordo apenas as situações em que a insigne economista confundiu a taxa de incidência fiscal das famílias com a das empresas e afirmou de forma convicta que os 40% que estas pagam são um exagero; quando, qual “padeira de Aljubarrota” dos tempos actuais, clamou contra os interesses espanhóis, ou quando em defesa das recém descobertas “piquenas” e médias empresas afirmou que o importante é facilitar-lhes o acesso ao crédito, esquecendo ou (o que é ainda mais grave) ignorando que o real problema destas é o seu excessivo endividamento e a crónica escassez de capitais próprios.

No meio de tudo isto propostas com alguma sustentabilidade e até qualidade passam quase despercebidas, um pouco à semelhança do que acontece com os chamados pequenos partidos – os que não têm assento parlamentar – que contra ventos e marés vão tentando fazer chegar aos eleitores as sua opiniões e pontos de vista. Afastados desde a primeira pela comunicação social resta-lhes os “tempos de antena” e uma ou outra acção melhor elaborada e suficientemente apelativa para atrair os meios de comunicação.

Como se houvesse falta de motivos de atracção (e de polémica), o PSD resolveu recuperar para a campanha o tema da “asfixia democrática” e, talvez ciente da reduzida consistência de um conceito tão fluido, a líder laranja repete-o até na sua deslocação à região do território onde as regras democráticas mais vezes têm sido desrespeitadas, onde ladeada do inefável e jactante Alberto João Jardim, Manuel Ferreira Leite (a mesma que meses antes propusera uma suspensão temporária da democracia para resolver a crise) lança sobre o rival PS o ferrete de anti-democrático.

Tudo isto parte de uma campanha que se apresenta ao eleitorado em defesa e exigência da “verdade”, enquanto jornalistas e comentadores se desdobram em análises sobre o tema e sobre o caso TVI/Manuel Moura Guedes, o PUBLICO lança também as suas achas para a fogueira e informa na primeira página da sua edição de 18 de Agosto que a Presidência suspeita de estar a ser vigiada pelo Governo, criando um “Watergate” nacional…
(A seguir: O "ESCUTAGATE")

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