Todos acrescentaram outras minudências, ou esticaram até à exaustão o tempo de antena que as televisões lhes proporcionaram, mas nenhum referiu o mais importante: a abstenção ultrapassou os 39%, valor que suplantou mesmo a percentagem dos votos no partido mais votado!
Os ciclos eleitorais sucedem-se mas a dura realidade do aumento da abstenção mantém-se imutável.
Será a pura incapacidade das forças políticas mobilizarem os eleitores ou o resultado de um sistema de apuramento de resultados que equipara o voto em branco ao voto nulo?
Face ao que ocorreu no mesmo fim-de-semana na Alemanha, onde o sufrágio para o Bundestag (o equivalente à nossa Assembleia da República) registou uma taxa de afluência superior a 72%[2], a resposta só pode ser a primeira hipótese. Num sistema eleitoral idêntico ao português, os cidadãos daquele país exercem o seu direito de voto de forma muito mais expressiva que nós o fazemos.
Será uma mera questão cultural ou será que a fraca qualidade dos políticos nacionais também tem uma importante quota-parte no problema?
De uma forma ou outra o resultado das eleições de ontem, tal como aconteceu na Alemanha, aponta claramente para um apoio alargado às políticas favoráveis à manutenção do “satus quo” que conduziu as economias mundiais à pior recessão económica desde a Grande Depressão (e as coisas ainda podem piorar, ao contrário do que se afirma), à continuação da política de recurso a fundos públicos para “salvar” um sistema financeiro cujos principais actores o conduziram à falência, enquanto a generalidade da população é abandonada à sua sorte num mercado de trabalho cada vez mais escasso, mais mal remunerado e onde campeia a arbitrariedade e a exclusiva lei do mais forte – a do capital.
Face aos resultados a formação do próximo governo deveria resultar de uma coligação entre o PS e o PSD ou o CDS, hipótese que ninguém parece encarar de imediato e que seguramente o Presidente da República também não irá forçar. Tal como o fez Jorge Sampaio em 2004, também Cavaco deverá apoiar a formação de um governo minoritário até que, no limite dos poderes presidenciais, possa dissolver a Assembleia na oportunidade em que o PSD apresente melhores hipótese de vitória.
Em resumo: vamos continuar entregues a um grupo de políticos-gestores mais interessados e preocupados com as suas agendas pessoais e partidárias que com a governação do país. Temos o que merecemos... foi nestes que votámos!
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[1] E a imprensa não deixou de referir que este valor foi francamente inferior ao 77% registados em 2005.
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