Aos primeiros protestos rapidamente se sucederam outras reacções mais violentas e destas à generalização dos confrontos com a polícia e às acções de pura vandalização de carros e imóveis nos principais centros urbanos do país foi um passo. Quase tudo poderia ser idêntico ao que sucedeu em França – a frustações de uma juventude grega (como a da generalidade dos outros países) desempregada e com reduzida formação – não fora a coincidência dos tumultos terem começado no mesmo bairro de Exarchia[1] que em 1973, com o mesmo tipo de acções, despoletou o fim da ditadura naquele país.
Não bastando este paralelismo, a Grécia sente os efeitos de uma crise económica (a mesma que nos atinge a todos) e os de um governo demasiado fragilizado por sucessivos casos de corrupção (nada de especialmente inédito para nós) e ao qual a oposição recusou qualquer tipo de solidariedade.
O local donde irradiou a agitação é uma espécie de “Quartier Latin” de Atenas, facto que poderá explicar a rápida propagação da contestação de uma juventude desiludida pelo actual clima económico mundial e que acusa o governo conservador, liderado por Costas Karamanlis, pela ausência de políticas que enfrentem os efeitos da crise económica e de uso excessivo de força.
Às reivindicações das camadas mais jovens veio juntar-se a convocação de uma greve geral que está a paralisar o país e a aumentar grandemente a pressão sobre o governo.
Ao quarto de dia de confrontos entre os jovens e a polícia a própria envida especial do LE MONDE[2] confirma o crescente apoio da população a um movimento juvenil seguramente muito heterogéneo, mas não desprovido de lucidez[3] e de todo o desencanto daqueles que vêm muito pouco futuro no futuro... a ponto de não estabelecer grande diferença entre o partido conservador no governo (o liberal-conservador Nova Democracia) e a principal força da oposição, o PASOK (socialista).
Mais do que nos graves acontecimentos na Grécia, parece-me de meditar nas enormes semelhanças entre o que motivou a revolta da juventude grega e as condições e as perspectivas que em Portugal os governos do PS e do PSD têm oferecido aos mais jovens... e prepararmo-nos para a forte possibilidade de vermos tudo isto repetido, com os nossos filhos como actores centrais.
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[1] É o nome de um dos bairros de Atenas no qual se situam algumas das suas mais importantes escolas (o que lhe dá um carácter predominantemente estudantil) e o abrigo de muitos movimentos anarquistas. As suas origens remontam aos finais do século XIX e o facto de nele se ter originado, em 1973, o movimento de contestação que culminou com a abolição da ditadura militar em 1974, granjeou-lhe um estatuto especial na vida social e política grega, tornando-o local de eleição para artistas e intelectuais.
[2] Ver aqui a notícia na íntegra.
[3] A título de exemplo veja-se esta entrevista a um jovem que o jornal LE MATIN chamou Dimostenis.
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