quarta-feira, 22 de outubro de 2008

CRESCIMENTOS DESIGUAIS


Quem tenha lido o meu penúltimo “post”, conhece perfeitamente a minha ausência de espanto para a conclusão apresentada pela OCDE[1] no seu relatório "Crescimento e Desigualdade", que embora reportada a dados de 2005 dificilmente poderá ter melhorado desde então.

A realidade nua e crua do estado do país é que, sejam quais forem os artifícios e malabarismos usados pelos que nos têm governado para justificarem aquele resultado, apresentamos a terceira pior classificação entre os 30 países analisados e poucas ou nenhumas perspectivas de melhoria num período particularmente conturbado como o que atravessamos, ou não tivesse o Banco de Portugal referido recentemente a subida do crédito malparado[2].

Esta perspectiva é tanto mais realista quanto as propostas de actuação correctiva, sugeridas pela OCDE – promoção do acesso ao trabalho e melhoria da intervenção governativa em áreas como a educação e a saúde – se inserem em áreas onde são bem conhecidas as polémicas políticas governativas seguidas em Portugal, como é o caso da educação e da saúde; é que bem pode aquela organização internacional apelar à introdução de medidas de promoção do acesso ao trabalho, quando entre nós se constata que é cada vez mais evidente a tendência para o empobrecimento de quem trabalha, situação a que já nem os possuidores de melhores qualificações escapam[3].

Perante tão triste cenário de que adiantará referir que esta tendência de empobrecimento da maioria em benefício de um ainda maior enriquecimento de uma minoria afecta um número crescente de países e que apenas pode estar a ocorrer com o beneplácito dos governos a quem a OCDE sugere as medidas correctivas ou sequer esperar que estes, por um passe de mágica ou simples rebate de consciência, decidam alterar as políticas neoliberais que aqui nos conduziram?
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[1] A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, ou OECD em inglês) é uma organização internacional dos países comprometidos com os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado; tem como objectivo influenciar as políticas económicas e sociais dos estados membros e contribuir para o desenvolvimento económico e social dos países em desenvolvimento. Também é conhecida como o Grupo dos Ricos por associar os 30 responsáveis pela produção de mais de metade de toda a riqueza do mundo.
[2] Entre as notícias sobre o assunto destaque para esta do SOL e esta do DIÁRIO DE NOTÍCIAS, que no conjunto referem o enorme crescimento do crédito malparado; esta situação é especialmente evidente no crédito ao consumo, mas importa lembrar que nas vertentes do crédito ao investimento e do crédito à habitação o indicador encontra-se seguramente subavaliado por os próprios bancos usarem como estratégia o protelamento “ad nauseam” dos “atrasos” de forma a não afectarem os resultados e os “prémios” de directores e administradores.
[3] Ainda na passada semana o DIÁRIO ECONÓMICO fazia referência ao facto dos patrões portugueses não quererem contratar trabalhadores licenciados.

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