A importância destes números ganha outro relevo quando se compara com a dimensão do PIB islandês, cerca de 11 mil milhões de euros
[3], que, conjugado com a grande dependência do sector financeiro (o sector terciário representa mais de 68% do PIB e origina mais de 70% do emprego) que aquela economia apresenta ajuda a explicar o nível de preocupação que os cidadãos do país transmitiram aos mais diversos órgãos de comunicação.Este cenário parecerá tanto mais estranho quanto até há pouco tempo a economia islandesa era apresentada, por muitos, como um exemplo de capacidade e de eficiência do modelo neoliberal de economia aberta. A Islândia, país piscatório por tradição e limitação natural, levou a cabo uma interessante modernização do seu tecido económico e social, a ponto de ser considerado como um dos mais ricos do Mundo. Para este sucesso muito contribuiu o seu sector financeiro que tem beneficiado de uma ampla desregulamentação e do crescimento exponencial do seu mercado de capitais que facilitaram às empresas e aos bancos islandeses a diversificação de investimentos um pouco por toda a Europa.
A crise que o país agora atravessa é tanto mais grave quanto o seu sector bancário representará hoje cerca de nove vezes o valor do PIB nacional e o seu colapso poderá arrastar todo o conjunto da débil economia islandesa, que tradicionalmente baseada no sector pesqueiro, se tornou particularmente vulnerável ao cruzamento de participações financeiras que ameaça um verdadeiro efeito de dominó sobre a economia.
Para agravar ainda mais este efeito, a moeda islandesa (coroa islandesa) tem estado sob ataques especulativos nos mercados cambiais (tenham eles sido originados numa correcta avaliação da fragilidade da divisa e das escassas reservas do Banco Central Islandês, estimadas por alguns analistas nuns escassos 4 mil milhões de euros, ou numa mera convicção da impraticabilidade da manutenção da paridade com o Euro) que já obrigaram à desvalorização da coroa islandesa, colocando-a numa situação apenas superada pela divisa do Zimbabwe.
A situação do país é de tal maneira grave que o primeiro-ministro, Geir Haarde, já anunciou que a Islândia se confronta com a possibilidade bem real de ver a economia nacional engolida pela tempestade financeira mundial e sob ameaça da própria falência do país.
Uma explicação para esta situação pode ser encontrada nas crescentes dificuldades de refinanciamento com que os bancos islandeses se têm confrontado e às quais as frágeis reservas do seu Banco Central não conseguiram proporcionar resposta; a anunciada garantia pública dos depósitos dos cidadãos islandeses não pôde ser estendida às contas estrangeiras do que resultou uma corrida aos levantamentos nas filiais fora do país[4] e à sua eminente ruína.
Para esta situação de calamidade nacional muito terá contribuído a reduzida dimensão da Islândia, a desproporção do peso do sector bancário no conjunto da economia islandesa, a óbvia fragilidade da moeda nacional e, talvez, a opção individualista que tem mantido a Islândia fora da UE e de uma moeda mais forte como o Euro.
Tudo isto me parece justificar que se observe atentamente a evolução da situação na Islândia e se tirem lições para o futuro, pois não basta acusar as opções de desenvolvimento neoliberal e o isolacionismo, nem o oposto a este (por exemplo a integração económica) constituirá garantia bastante para as economias mais frágeis, como é o caso português.
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[1] Uma dessas notícias, publicada pelo DIÁRIO ECONÓMICO, pode ser lida aqui.
[2] Ver esta notícia da BBC.
[3] O valor anunciado pelo WORLD FACT BOOK é uma estimativa para 2007 de 14,52 milhões de dólares.
[4] Uma das principais praças de operação situa-se no Reino Unido.
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