quarta-feira, 12 de março de 2008

QUESTÕES EM TORNO DE UMA GRANDE MANIFESTAÇÃO

Após a grande manifestação que os professores levaram a cabo no passado fim-de-semana, parece-me incontornável a necessidade de introdução de algumas mudanças para os lados do Ministério da Educação.

Talvez a saída para a situação até já tenha sido apresentada perante as câmaras da RTP1 pelos dois regulares comentadores – Marcelo Rebelo de Sousa e António Vitorino – quando com 24 horas de diferença deixaram no ar a ideia de que a solução poderá passar por um ligeiro recuo no acessório, para assegurar a continuidade no fundamental.

Apoie-se ou critique-se a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, não me parece de todo em todo descabido afirmar que algumas das medidas contestadas merecem uma apreciação séria e desapaixonada e que a actual equipa do Ministério da Educação até poderá vir a ser reconhecida no futuro como uma das que mais terá feito para melhorar a situação do ensino no nosso país. Ninguém de bom senso poderá contestar a necessidade da aplicação de critérios de avaliação aos profissionais da educação, quando a generalidade dos restantes profissionais se submete já a idêntico processo, da mesma forma que ninguém negará a possibilidade de melhorar o actual modelo de gestão das escolas.

Quando se pesam as críticas e se recordam declarações a propósito de anteriores medidas como a do alargamento dos horários escolares e da criação das aulas de substituição, é justo assumir-se que boa parte daquelas radicam mais de conceitos corporativistas que da defesa dos reais e superiores interesses daqueles que são (ou deveriam ser) a razão primeira e última da existência de qualquer profissional de educação – os alunos.

Sem querer retomar aqui a litania dos “probrezinhos”, devo dizer que há muito defendo a recuperação de uma prática que julgo indispensável para que venhamos a ter um sistema educativo válido e capaz de produzir resultados, a da realização de exames nacionais e eliminatórios no final de cada ciclo de ensino, da mesma forma que sempre afirmei que boa parte da responsabilidade pelo insucesso dos sucessivos programas de educação deve ser imputada aos profissionais de educação que das escolas não souberam (ou quiseram) fazer chegar aos responsáveis do Ministério da Educação e à comunidade as suas críticas e as sugestões, fruto da experiência dos que no dia-a-dia se confrontam com as dificuldades educativas.

Mesmo ciente que não é uma crítica que sirva a todos os profissionais de educação, a minha experiência enquanto antigo aluno, antigo professor e encarregado de educação obriga-me a deixar aquele reparo, da mesma forma que seja qual for o desenvolvimento que este processo venha a conhecer, me parece particularmente relevante que este momento também seja utilizado para reflectir sobre as qualidades daqueles que nos governam.

A aparente falta de diálogo entre a Ministra e os Professores (parece uma realidade mesmo tendo em conta que essa crítica vem sobretudo do lado dos sindicatos e que estes até poderão constituir os parceiros menos adequados à discussão de problemáticas que vão muito além dos interesses da classe sócio-profissional que representam) deve ser analisada e dela retiradas as necessárias ilações políticas.

Tal como aconteceu com a equipa do anterior Ministro da Saúde, Correia de Campos, também neste caso poderemos estar na presença de uma equipa que esteja a produzir um trabalho válido mas que se revela incapaz de o explicar e até de conquistar os intervenientes para o processo que pretende conduzir. Daqui se deverá concluir que para ocupar um lugar governativo não basta ser um técnico competente ou até, talvez, um profundo conhecedor das estratégias a aplicar, quando em simultâneo se revela uma absoluta falta de capacidades tácticas.

Não menos importante que esta crítica específica às personalidades que têm passado por funções governativas é a que de forma genérica deve ser endereçada ao conjunto dos actores da cena política nacional; é que governantes, parlamentares e responsáveis partidários das principais forças políticas nacionais nunca conseguiram (será que tentaram sequer) concertar planos estratégicos que assegurassem uma estabilidade que perdurasse além da duração de uma legislatura. Esta incapacidade não só se tem revelado altamente penalizadora para o conjunto dos cidadãos do país, como pode hoje ser apontada como principal razão para as constantes “mudanças de rumo”, determinadas mais ao sabor dos ventos políticos partidários que dos interesses gerais, que áreas estrategicamente tão importantes como a educação, a saúde, a justiça e a segurança têm conhecido desde o 25 de Abril.

Será que decorridos mais de 30 anos sobre o regresso a uma relativa normalidade democrática, os principais decisores políticos nacionais ainda não conseguiram encontrar o que de fundamental une o povo que pretendem dirigir? É que se a resposta for pela negativa origina uma segunda pergunta: então como podem esperar reunir condições para o dirigir?

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