quinta-feira, 27 de março de 2008

PARA REFLECTIR NO DIA MUNDIAL DO TEATRO

Assinala-se hoje mais um dia mundial do teatro!

É daquelas datas onde, um pouco por todos os palcos mundiais, se costumam libertar vivas ao teatro, mas hoje proponho-vos apenas a leitura deste texto do sociólogo Francesco Alberoni (os sublinhados são de minha responsabilidade), oportunamente publicado no DIÁRIO ECONÓMICO:

«Responsabilidade

Freud demonstrou que somos responsáveis por todas as nossas acções, quer sejam intencionais ou involuntárias. Estou furioso com uma pessoa, não me apetece vê-la, mas se essa mesma pessoa tocar à minha porta, as regras da boa educação ditam que a mande entrar e lhe ofereça um café. Depois, inadvertidamente, choco com ela. A chávena balança, saltam algumas gotas e sujam-lhe a roupa: “Desculpe, desculpe!” O meu gesto fora realmente inocente? Não se tratava, afinal, de uma manifestação do meu desejo de não ver aquela pessoa?

Há muitíssimas acções que se inserem nesta fronteira, na qual o impulso é afastado, com dificuldade, da consciência e abre caminho através de um lapso, um gesto grosseiro, um esgar, um olhar vago ou inquieto, um tom de voz rude ou afectado. É por essa razão que, quando nos deparamos com alguém que acreditávamos ser nosso amigo, temos uma sensação de desconforto, de frieza, de hostilidade. As sensações dizem-nos mais sobre o nosso interlocutor do que todas as declarações que ele possa fazer. E aquilo que é válido para os indivíduos também é válido para as empresas, para os organismos públicos. Há alguns dias, visitei uma grande empresa. A zona envolvente estava cuidada, os acessos limpos e, apesar dos produtos químicos, não havia odores nem ruídos e as pessoas cumprimentavam-nos.

Tive a sensação de que se tratava de uma empresa eficiente, harmoniosa, e com a qual era possível estabelecer uma excelente relação de colaboração. Há algum tempo atrás, tinha ido a uma grande organização, onde não vi ninguém sorrir aos utentes, mas apenas gente silenciosa, soturna, de olhar fixo no computador, com a secretária cheia de cartas, um mundo árido e hostil.
O responsável por uma empresa ou por uma instituição deve estar muito atento ao ambiente que o rodeia. Deve registá-lo e analisar os comportamentos dos seus colaboradores. Nos gestos, deve deduzir motivações que não se transformam em palavras e que talvez até eles desconheçam e dar-lhes solução. São poucas as pessoas jovens que, mesmo após um encontro importante, fazem esta análise, talvez por não terem sido treinadas para a fazer. Não têm a sensibilidade adequada para descodificar a linguagem gestual. Não por falta de professores, como os realizadores e os actores de teatro e de cinema, que estudam as manifestações inconscientes da alma humana para as poderem representar de forma consciente. Mais, estou completamente convencido da utilidade de integrar o estudo da representação teatral no ensino. Poderia ajudar os jovens a compreenderem melhor os outros e a si próprios, a estarem mais conscientes das suas acções e, portanto, mais responsáveis.

Francesco Alberoni, Sociólogo»

e uma reflexão sobre as razões para o “vazio” em que os poderes estabelecidos persistem em transformar as escolas...

A quem serve, em última instância, a formação de gerações de trabalhadores amorfos e obedientes?

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