terça-feira, 18 de março de 2008

SPIT ON SPITZER

A recente demissão do governador de Nova Iorque por envolvimento numa rede de prostituição é assunto que me parece merecedor de um tipo de análise que não encontrei nas notícias que li sobre o assunto.

Na generalidade da imprensa norte-americana abordou o acontecimento sob dois pontos de vista: o do político que fora eleito pela sua superioridade moral e o da superioridade dos valores puritanos. No meu entender um e outro pecam por simplistas, parciais e muito perigosos.

O primeiro, apesar de mais defensável, por Eliot Spitzer ter alicerçado a sua fulgurante ascensão no cenário político norte-americano numa feroz luta contra a corrupção que iniciou após a eleição para o cargo de procurador-geral[1], limita a crítica a uma problemática de natureza pessoal – uma situação de infidelidade conjugal – esquecendo a resposta a questões significativas como a explicação da origem dos fundos utilizados no pagamento dos “serviços” do sofisticado “Emperors Club”; os dois em conjunto por prefigurarem uma evidente intromissão na esfera privada de cada cidadão.

Mesmo sem esquecer o facto do ex-governador nunca poder deixar de ser responsabilizado pelo facto de ter “facilitado” a tarefa aos seus opositores e adversários, continuamos a assistir nos EUA a uma muito infeliz mistura entre a política (e os seus actores mais destacados) e o sexo, como se alguém, ou alguma entidade, detivesse uma superioridade moral sobre o comum dos cidadãos. Na perspectiva destes apóstolos da moral e dos bons costumes é mais condenável o envolvimento com uma prostituta que decisões tomadas à revelia de toda a lógica e mediante o recurso à manipulação e falsificação de informação.

Se, como parece ser o caso, «Cuspir no Spitzer»[2] se poderia bem transformar numa regra para todos os políticos que prevariquem contra a moral puritana, qual deveria ser a sanção para os que comprovadamente envolvem o país em guerras injustificadas e sorvedoras de milhares de vidas e de milhões de milhões de dólares?

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[1] Esta eleição foi acompanhada de alguma controvérsia sobre a origem dos fundos que suportaram a sua campanha, alegadamente um empréstimo feito pelo próprio pai, Bernard Spitzer, conhecido magnata do imobiliário.
[2] Tradução do trocadilho em inglês que usei para título do post.

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