domingo, 11 de fevereiro de 2007

NOVAS COINCIDÊNCIAS NA PALESTINA

Ainda não tinha acabado de ser alcançado o acordo entre a Fatah e o Hamas para o cessar das hostilidades abertas entre as duas organizações palestinianas e a formação de um governo palestiniano de unidade nacional e já novo foco de conflito se erguia na região.

Enquanto sob os auspícios da Arábia Saudita em Meca e pareciam dar-se alguns passos para a normalização da região, após um período em que os confrontos entre militantes do Hamas (partido islâmico vencedor das eleições palestinianas de Janeiro de 2006) e da Fatah (organização histórica da luta pela independência palestiniana, actualmente liderada por Mahmoud Abbas, o Presidente da Autoridade Palestiniana), provocaram alguns mortos, eis que a decisão do governo israelita de proceder a obras na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, volta a fazer aumentar a tensão.

Garantindo um “timing” perfeito, no próprio dia 8 de Fevereiro, a par com as imagens dos líderes do Hamas e da Fatah, era noticiada a posição americana e israelita de grande reserva perante a viabilidade da solução de compromisso palestiniana e o levantamento das sanções impostas ao governo do Hamas. Recorde-se que após a pressão norte-americana para a criação de uma segunda fonte de poder nos territórios palestinianos (estratégia abertamente apoiada, se é que não foi inspirada, por Israel para reduzir a influência de Yasser Arafat, então líder da Fatah e do governo palestiniano) foi criada a figura de presidente da Autoridade Palestiniana e realizaram-se sucessivos actos eleitorais, no último dos quais resultou uma clamorosa vitória do Hamas; perante este resultado e sob a alegação de que aquele era um grupo terrorista (Israel conseguiu dos EUA a inclusão do nome do Hamas na lista negra do terrorismo após o 11 de Setembro de 2001) os EUA e a UE suspenderam o auxílio financeiro à Autoridade Palestiniana, acto de sanção económica em que foram prontamente acompanhados por Israel, que decidiu suspender a regular entrega dos direitos alfandegários que cobra nas fronteiras palestinianas.

Sobre o acordo interpalestiniano que nos seus pontos principais define que Ismael Haniyeh, do Hamas, continuará com as funções de primeiro-ministro; que o Hamas ficará com 9 ministros, a Fatah com 6 e os restantes 4 serão distribuídos por outros partidos; que as pastas do interior, finanças e negócios estrangeiros serão ocupadas por independentes e que o Hamas matem a sua posição de não reconhecer explicitamente a existência do Estado de Israel, estanho este último ponto do acordo porquanto tem sido o principal argumento para a recusa do governo israelita em dialogar com o actual governo palestiniano (chefiado por Haniyeh e integralmente constituído pelo Hamas), tanto mais que em meados do mês passado Kahled Meshaal, o líder do Hamas no exílio, declarou numa entrevista à Reuters, citada pelo PUBLICO, que «…a existência de Israel é uma “matéria de facto”, que “não coloca problemas” ao movimento islamista. “O problema é que o Estado palestiniano não existe. A realidade é que Israel existe em território palestiniano”» e que «…o reconhecimento só surgirá quando for criado o Estado palestiniano».

Pouco mais de 72 horas volvidas sobre o anúncio do acordo já estalou outro foco de conflito; tal como sucedeu em 2000 após uma visita de Ariel Sharon à Esplanada da Mesquita e que foi a causa próxima da II Intifada, eis que agora o governo de Israel decidiu iniciar obras para a construção de um novo acesso à área da Mesquita de Al-Aqsa.

Embora as opiniões se dividam quanto à necessidade de tais obras, com os judeus a considerarem-nas necessárias e os palestinianos a julgarem-nas como mais uma provocação e uma forma de minar (literalmente) a estrutura da Mesquita de Al-Aqsa, o que é certo é que a própria UNESCO, numa nota de imprensa que difundiu salienta a necessidade da obra, cujos planos diz desconhecer, respeitar o valor histórico de um local que se encontra classificado como Património Mundial.

Mesmo não estando em causa um comportamento por parte das autoridades israelitas idêntico ao que levou à destruição dos Budas de Bamiyan pelos taliban em finais do século XX, não se pode deixar de questionar a coincidência da criação de mais este foco de atrito num momento em que parecem em vias de resolução algumas das condicionantes apresentadas por Israel para a suspensão do processo de diálogo com os palestinianos.

Se tudo isto não parece obedecer ao um plano há muito gizado para manter um permanente nível de confronto entre israelitas e palestinianos, então o Mundo está mesmo cheio de coincidências…

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