Continua sem passar um dia em que a violência no Iraque não seja notícia. Umas vezes pelos atentados suicidas, quase sempre atribuídos pelo governo iraquiano aos terroristas “saddamistas”, outras para dar conta de importantes vitórias do exército iraquiano (os meios de comunicação ocidental referem cada vez a intervenção do exército americano como forma de apoio ao exército iraquiano) sobre os terroristas.
Disto mesmo foi exemplo as notícias que no início da semana deram conta de morte de 250 militantes e a captura de mais de meia centena de outros membros de uma força rebelde, até então desconhecida e designada por Exército do Paraíso. Os combates tiveram lugar próximo de Najaf, no dia 28 de Janeiro quando se encontravam no auge as festividades xiitas da Ashura[1].
Fontes locais, citadas pela BBC, referiram que os rebeldes se encontravam bem armados e até dispunham de armamento anti-aéreo (um helicóptero americano foi abatido e os seus dois tripulantes mortos), mas as baixas registadas pelas forças governamentais resumiram-se a 3 mortos e uma vintena de feridos.
Aparte a referência a uma nova força armada, tudo não teria passado de mais episódio de violência no Iraque, não fosse três dias depois uma notícia no THE INDEPENDENT, vir levantar algumas sérias dúvidas sobre o que realmente ocorrera.
De acordo com outras fontes iraquianas e alguma imprensa em língua árabe, que contradizem abertamente a versão oficial, o que realmente terá ocorrido num posto de controlo montado pelo exército iraquiano foi o resultado de um desentendimento com um grupo de duas centenas de peregrinos da tribo Hawatim que pretendiam dirigir-se a Najaf. Contrariando as ordens terão tentado prosseguir viagem com uma viatura (algo que no actual estado da situação no Iraque é quase anunciar um atentado) em virtude do chefe do clã não poder caminhar. A reacção dos soldados iraquianos e o facto de toda a gente andar armada no território terá originado uma troca de tiros rapidamente seguida de um pedido de auxílio por parte dos soldados.
Prontamente atendido o pedido de socorro, os helicópteros americanos enviados para o local dizimaram os pretensos rebeldes, aos quais se tinham juntado membros da tribo local, Khaza'il.
Em jeito de comentário a mais esta acção militar de muito difícil explicação, o DIÁRIO DE NOTÍCIAS questiona se tudo não terá passado de um Waco no Iraque[2], enquanto o jornal inglês que avança a informação que as duas tribos envolvidas (os Hawatim e os Khaza’il) são conhecidos opositores do partido Dawa e do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque, organizações que controlam a região de Najaf e constituem o núcleo central do actual governo de Bagdad, o que além de ajudar a explicar o próprio desenrolar dos acontecimentos revelará ainda a “utilidade” prática do massacre.
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[1] Designação das celebrações que recordam a morte de Hussein, neto de Maomé, numa batalha que teve lugar em Kerbala.
[2] Referência ao massacre ocorrido em 1993, na localidade de Waco, no estado do Texas, que vitimou 74 membros da seita dos Davidianos, na sequência de um incêndio que destruiu as instalações onde se encontravam sitiados há vários dias pela polícia americana.
[2] Referência ao massacre ocorrido em 1993, na localidade de Waco, no estado do Texas, que vitimou 74 membros da seita dos Davidianos, na sequência de um incêndio que destruiu as instalações onde se encontravam sitiados há vários dias pela polícia americana.
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