sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

DESPENALIZAÇÃO DA IVG – A HORA DE VOTAR

Quando pouco tempo falta para o encerramento do período de campanha para o referendo sobre o aborto e ao longo dos últimos dias defensores e críticos da respectiva despenalização se têm desdobrado na divulgação dos seus pontos de vista, será chegado o momento de reflectir um pouco além da questão a escrutinar.

Tal como o fiz no início oficial da campanha, mantenho hoje as mesmas dúvidas quanto à lógica que presidiu à convocação deste referendo (em face do cenário inconclusivo da primeira consulta, para quê repeti-la) e as declarações com que nos últimos dias alguns defensores do NÃO vierem baralhar ainda mais a situação (afinal parece que toda a gente concorda quanto à necessidade de alterar a legislação), além de não me terem tranquilizado quanto ao resultado, levam-me a reforçar a probabilidade de existência de um objectivo não declarado.

Quando as sondagens continuam a dar vantagem ao SIM, mas se revelam incapazes de traduzir o fenómeno da abstenção (tal como aconteceu em 1998), quando surgem nos meios de comunicação notícias sobre o elevado número de “eleitores” que nem recenseados se encontram, principalmente entre as camadas mais jovens, tudo indicia uma forte probabilidade de mais um referendo não vinculativo.

A confirmar-se um cenário desta natureza, tornar-se-á ainda mais pertinente perguntar a quem serve tal resultado.

Não sendo aos eleitores que votarem, nem tão pouco aos que o não fizerem, restará concluir que os beneficiados serão, além daqueles a quem tocará parte dos 10 milhões de euros orçamentados para o acto, os que demitindo-se do seu papel legislativo optaram por viabilizar a solução do referendo.

Podendo ter havido os que o fizeram por entenderem que desta forma estariam a dar à sociedade uma hipótese de exercício de vontade, a maioria fê-lo por mero carreirismo político, votando de acordo com a vontade dos líderes das estruturas partidárias com representação parlamentar. Agora, perante este quadro de irresponsabilidade e demissionismo político-parlamentar espera-se (e apela-se) ao voto no próximo domingo.

Em face do desastroso que será nunca mais voltarmos a ver convocado um referendo entre nós (caso mais que provável face à cada vez maior abstenção), qualquer que seja a nossa convicção face à consulta sobre o aborto, deveremos marcar presença neste acto mesmo cientes que tudo terá sido organizado para confirmar a sua inutilidade.

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