quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

COISAS ANTIGAS

As notícias do início do julgamento dos implicados no atentado de Madrid (13 de Março de 2004) e da aprovação pelo Parlamento Europeu do relatório sobre os voos da CIA, trouxeram-me à memória “coisas” mais antigas.

Enquanto o DN chamava hoje para o seu editorial a hipocrisia revelada na versão final do relatório da comissão de investigação (nomeadamente através do branqueamento da actuação do actual governo português, expresso na arrogante recusa de colaboração com as investigações, e na desculpabilização de proeminentes figuras nacionais da época, casos do ex-primeiro-ministro e actual presidente da Comissão Europeia Durão Barroso e do ex-ministro da defesa Paulo Portas), denunciava a actuação de algumas forças policiais europeias que procederam ao interrogatório de prisioneiros em Guantánamo, assim violando um sem número de leis nacionais e internacionais (muitos daqueles prisioneiros continuam hoje sem conhecer os crimes de que são acusados) e colaborando activamente num dos maiores atentados ao direito e às liberdades individuais dos últimos tempos.

A propósito dos métodos de actuação das pretensas forças da ordem e do “vale tudo” que impera e ao abrigo do qual as “democracias” ocidentais pretendem desenvolver a luta contra o “terrorismo” vejam-se as notícias que de quando em quando surgem em alguns meios de comunicação sobre o “tratamento” infligido pelos americanos aos alegados “talibans” detidos em Guantánamo.

Uma das últimas de que guardo memória é relativamente recente e foi noticiada no jornal EL PAIS. Mesmo descontando algum aparato “jornalístico” quem pode negar o “murro no estômago” da democracia que significa identificar os presos com pulseiras plásticas com a indicação «ANIMAL NUMBER ....».

Não estando em causa qualquer desculpabilização de actos como os atentados em Nova York, Madrid ou Londres, será com respostas desta natureza que as “democracias” ocidentais se vão distinguir dos comportamentos “islamo-fascistas” dos movimentos islâmicos mais radicais?

Será pela diabolização das tendências islâmicas mais radicais e mediante uma resposta cada vez mais musculada (e carregada de conceitos e práticas racistas e animalescas) que vamos conseguir algum dia eliminar aquele tipo de atentados?

É óbvio que a justiça espanhola irá funcionar e emitirá penas de condenação aos autores dos atentados, mas além disso que mais irá o Estado Espanhol fazer para obviar a sua repetição?
Estar-se-á a gizar algum plano de actuação para contribuir efectivamente para a melhoria das condições de vida dos milhares de imigrantes islâmicos que trabalham naquele país?

Quando será conhecida e efectivamente aplicada uma política comunitária para melhorar as condições de vida das populações subsarianas que hoje afluem às fronteiras da Comunidade?

Se ninguém nega que o “terrorismo” é um fenómeno de natureza violenta, para quando uma efectiva tentativa de erradicação das raízes da violência? Quem, de boa fé, espera que milhões se mantenham dispostos a viver pacíficamente numa situação de miséria nas fronteiras da abundância?

Na ausência de respostas a estas questões continuaremos à espera de nova vaga de atentados, ou será que esta inércia é intencional e os seus promotores apenas aguardam novos pretextos para continuar uma política de ocupação militar e de apropriação de riquezas naturais?

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