segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

DESPENALIZAÇÃO DA IVG – ECOS FINAIS

Depois de ler e reler o artigo de opinião do Professor César das Neves hoje publicado no DIÁRIO DE NOTÍCIAS, ficou-me uma enorme curiosidade sobre como seria o artigo que preparou em caso de vitória do NÃO.
Acreditem ou não, estas questões por vezes bizantinas sempre me fascinaram!

Por exemplo, como seria hoje o nosso quotidiano (o da monotonia do trabalho, da dureza concreta e das dificuldades quotidianas a que César das Neves se refere) SE os cruzados não tivessem auxiliado o nosso primeiro rei a conquistar Lisboa aos árabes, ou SE os ingleses não tivessem contribuído para a derrota castelhana em Aljubarrota?

Estas questões são para mim tão fascinantes quanto tentar compreender a incapacidade que outros revelam em entender a realidade que os rodeia.
Por exemplo, a avaliar pelo conteúdo deste artigo quantas vezes ainda vão ser necessárias explicar a Luís Delgado que o caracter vinculativo da figura do referendo não invalida que o Parlamento volte a debater a questão da despenalização do aborto. Tal apenas aconteceria no caso de uma vitória do NÃO, acompanhada de uma afluência às urnas superior a 50%; na ausência desta última condição NÃO EXISTE QUALQUER OBRIGATORIEDADE DE CUMPRIR O RESULTADO DO REFERENDO, nem o seu inverso.

Quando será que aquele jornalista (pelo menos é assim que o próprio se intitula) entenderá que os resultados eleitorais (como muitas outras coisas do nosso quotidiano) não podem ser “manobrados” ao belo prazer de alguns e que começar desde já a apelar à intervenção de Cavaco Silva (seguramente muito pouco interessado em desperdiçar a oportunidade de uma reeleição) e do Tribunal Constitucional pode muito bem vir a revelar-se um erro maior que o de ter confiado que bastaria o apoio das estruturas da Igreja Católica para garantir a manutenção da proibição do aborto.

A propósito, não foram os próprios opositores da legalização que durante a campanha se manifestaram contra a manutenção de uma prática penalizadora para as mulheres?

Então, em que ficamos?

Mesmo compreendendo a frustração que sente é preciso ter muito cuidado com as declarações que se produz, especialmente quando tudo o que se diz consiste apenas em lançar mais achas para a fogueira, prática tanto mais perigosa quanto não seria a primeira vez que o fogo consumiria a sua própria origem.

2 comentários:

Carlos Gil disse...

a história contrafactual é fascinante... entrando nela o JCN ou o LD torna-se... hilariante!
;-)

Barão da Tróia II disse...

Parafreseando o outro"... tudo como dantes, quartel em Abrantes... Boa semana