«O automobilista que entrou hoje de madrugada de carro num túnel do metropolitano do Porto, fê-lo por desconhecer completamente que havia metro na cidade, disse à agência Lusa fonte da PSP do Porto.»
Foi assim que na passada terça-feira o DIÁRIO DIGITAL iniciou uma notícia que noutros países, como mero “fait divers” não mereceria relevo de divulgação nacional. Sucede que entre nós as notícias de casos desta natureza, tais como as constantes “viagens” pelas auto-estradas em contramão, constituem motivo de interesse e de debate sobre as respectivas explicações.
Mas o que efectivamente prendeu a minha atenção foi a forma particularmente benévola, quase carinhosa, como a notícia foi tratada. Se estivéssemos perante mais um acidente que eventualmente pudesse ser atribuída a excesso de velocidade, seria certo que o desenvolvimento do discurso seria bem diverso.
No caso presente apenas aconteceu que um pacato cidadão, desrespeitando a sinalização afixada, utilizou um corredor de acesso à via do Metro do Porto; mas não bastando isso e em vez de corrigir o erro quando de tal se apercebeu, o citado condutor insistiu em circular pela via-férrea e apenas o facto da viatura ter sofrido danos suficientes que a imobilizaram é que o impediu de continuar a “sua viagem”.
Qualquer pessoa de bom senso interrogar-se-á como pôde um condutor circular sobre as travessas da via-férrea como se de uma via normal se tratasse?
Uma possível explicação poderá estar na muito falada arte nacional do “desanrascanço” e na cada vez mais popular prática de cada um “se safar”como pode.
Outra, bem mais evidente parece-me ser a da notória falta de condições (leia-se habilitações e treino) que muitos dos condutores nacionais evidenciam.
Muito se tem falado (e continua a falar) na segurança rodoviária, mas pouco se tem feito para efectivamente se introduzirem melhorias concretas e reais, começando pelo ensino da condução, passando pelas condições de circulação (viaturas e vias) e acabando na própria legislação. Em termos práticos exige-se cada vez mais dos candidatos a condutores e dos proprietários de viaturas, mas continuam a construir-se estradas com evidentes deficiências, pouco ou nada se faz para reparar devidamente as estradas mais antigas e para cúmulo desde há alguns anos que se autoriza a circulação de viaturas cujos condutores não carecem da devida habilitação.
Neste cenário de absoluta incongruência como nos podemos espantar que um “pobre” condutor tenha utilizado uma via-férrea para circular com o seu automóvel ligeiro?
Como iremos pedir responsabilidades a condutores não encartados?
Quando veremos acabar tudo isto?
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