terça-feira, 21 de novembro de 2006

A QUEM SERVE A MORTE DE MAIS UM GEMAYEL

A crise libanesa poderá ter iniciado hoje uma nova fase. Cerca de três meses após a invasão israelita uma sucessão de acontecimentos está a precipitar a situação naquele país do Médio Oriente; para agravar o clima pouco calmo resultante da demissão no início da passada de seis ministros xiitas do governo de Fouad Siniora eis que hoje foi assassinado o ministro da indústria, Pierre Gemayel.

Nome de consonância familiar para quem tenha acompanhado um pouco mais de perto a política naquela região, o agora falecido era filho do ex-presidente Amin Gemayel, sobrinho doutro ex-presidente, Bashir Gemayel e neto do fundador da Falange Cristã Maronita, com o mesmo nome.

Figura proeminente daquela minoria religiosa que dominou a cena política libanesa nos anos 70 e 80 do século passado, grupo tradicionalmente apoiante de Israel e opositor da influência síria no Líbano, é o terceiro membro da família a ser assassinado (depois do tio, Bashir, e da prima, Maya) e num momento que poderá marcar uma radicalização na crise interna que ameaça intensificar-se, embora se possa estranhar o fraco peso político do alvo do atentado. Os anos de glória da minoria cristã maronita já foram vividos, a pasta ministerial que ocupava não era das mais importantes e mesmo as posições anti-sírias de Pierre Gemayel parecem-me pouco significativas para justificarem este acto.

É óbvio que de pronto foi apontada a Síria como responsável pelo crime, apesar de não ser quem mais pode lucrar com o agravamento da crise libanesa, e numa fase em que Damasco vem dando claros sinais de pretender iniciar um relacionamento mais aberto com os seus vizinhos, pelo menos a julgar pela aproximação hoje mesmo anunciada entre a Síria e o Iraque.

Neste ponto os principais beneficiários são os defensores da tese que pugna pela necessidade de redesenhar o mapa do Médio Oriente e se têm vindo a bater pela “democratização” daquela região do Mundo.

Tal como sucedeu no século passado, são crescente os sinais de que novamente aquele país poderá ser devastado por uma guerra destinada a resolver interesses e diferendos muito mais vastos que os dos libaneses. O fracasso da recente iniciativa israelita tenderá a ser “rectificado” e é cada vez mais provável o eclodir de uma guerra onde os interesses americanos e árabes serão representados por interpostos actores.

A acompanhar os desenvolvimentos nos próximos dias a par com os recentes casos de “raptos instantâneos” que ocorrem na Faixa de Gaza (hoje foi a vez de dois trabalhadores da Cruz Vermelha Internacional, que já anunciou a suspensão da suas actividades naquele território. Neste caso, tal como no crime agora cometido no Líbano, os responsáveis podem muito bem ser outros que não os “terroristas”, tanto mais que os raptos ocorridos na Faixa de Gaza não têm sido reivindicados por ninguém.

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