Tinha pensado procurar aqui esclarecer algumas das afirmações produzidas, com as quais Vasco Graça Moura habilmente procura cobrir de candura as estratégias judaicas e de opróbrio e vilania as actuações de palestinianos e árabes. Assim, a pretensa benemerência com que os dirigentes judaicos aceitaram as primeiras propostas de distribuição territorial (em 1937) resultou não de um arreigado sentimento de concórdia mas do facto daquele grupo não representar sequer 30% da população do território; por outro lado a recusa das propostas britânicas para regular questões como a distribuição da terra e a chegada de novos imigrantes tanto foi assumida pelos árabes como pelos judeus e o recurso à violência foi praticado por ambas as partes (se assim não tivesse sido com explicará Vasco Graça Moura a criação do Irgun e do Stern, grupos guerrilheiros que se cindiram do Aganah por discordarem dos seus métodos demasiados brandos quer relativamente aos ingleses quer aos árabes e que se distinguiram por inúmeros actos de terrorismo contra estes).
Outro evidente “branqueamento” despudoradamente praticado por Vasco Graça Moura é quando omite a forma como foi criado o estado de Israel. Contrariando a pretensão da ONU de criar dois estados (um judeu e outro palestiniano) os judeus declararam unilateralmente o estado judaico, assim contribuindo (se é que não o fizeram intencionalmente) para o primeiro ataque em forma desencadeado pelos estados árabes vizinhos e em consequência do qual Israel iniciou o primeiro processo de anexação de novos territórios aos palestinianos. Fortalecidos com o constante fluxo imigratório (situação que Vasco Graça Moura também adultera quando refere a forma como os estados árabes instalaram os refugiados palestinianos nos seus territórios – criando campos de refugiados que ainda hoje existem – mas esquece de mencionar que os judeus oriundos dos países árabes e do leste europeu eram (são) “colocados” nos colonatos mais afastados e com piores condições de vida) e o não menor e regular fluxo financeiro oriundo das ricas comunidades judaicas instaladas na Europa e nos EUA, os dirigentes israelitas de pronto iniciaram um processo de armamento intensivo, que culminou com a constituição do seu próprio arsenal nuclear, constituindo actualmente um dos mais importantes parceiros militares dos EUA e o destino do mais sofisticado equipamento militar por este produzido.
Porém, no dia seguinte deparei-me, no mesmo jornal, com um texto assinado pelo Prof. Rogério Fernandes Ferreira que responde muito melhor que eu o conseguiria fazer ao que na véspera escrevera Vasco Graça Moura.
Além de recomendar vivamente a sua leitura, aqui deixo algumas curtas citações:
«As ocorrências de conflitos armados são descritas tendenciosamente, favorecendo-se assim a deflagração ou o desenvolver de guerras.
[…] Quem, realmente, quer a paz esforça-se por a encontrar. Conceber e concretizar guerras não é conceber paz.
Culpa-se da guerra o outro lado (pois, nós, temos razão). Nós queremos o legítimo (o que é nosso). O que é nosso? O nosso é o que defendemos, o que queremos tirar aos outros ou o que os outros nos querem tirar a nós.
[…] Ainda não se condenam os crimes dos vencedores, dos mais fortes. Até persiste o mito de considerar mais heróis os que mais matam.»
que a todos recomendo terem em mente quando lerem ou ouvirem algo sobre o que se está a passar, ou se passou, no conflito israelo-árabe.
Como um dia Fausto Bordalo Dias bem escreveu «… por mais que seja santa a Guerra é a Guerra», estou seguro que em nenhum conflito existem em qualquer dos lados apenas santos ou pecadores, heróis ou cobardes, mas tão somente Homens que desejam sobretudo viver… Assim, continuo convicto que não será com contribuições como mais esta de Vasco Graça Moura que algum dia se conseguirá construir uma paz efectiva no Médio Oriente ou em qualquer outra região do Mundo e que por mais utópico que seja Rogério Fernandes Ferreira, é seguindo-o que poderemos construir um Mundo melhor.
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