Enquanto aguardamos pelo desenvolvimento da situação no Médio Oriente, onde para muitos a tranquilidade que se vive é semelhante àquela que antecede as tempestades, é seguramente oportuno reflectir um pouco sobre como se chegou a este ponto e em que medida isso pode influenciar o que se seguirá.
Mesmo para os menos atentos o acordo de cessar-fogo alcançado pela ONU podia, e devia, ter acontecido bem mais cedo, o que apenas não ocorreu por deliberada actuação dos EUA, que numa primeira fase apelaram à contenção israelita para a seguir se oporem frontalmente a qualquer hipótese de cessar-fogo; as primeiras referências a uma iniciativa francesa motivaram nova alteração da posição americana, que então passou a apresentar uma proposta de cessar-fogo apenas para inviabilizar a iniciativa francesa e assim prolongar as conversações diplomáticas e o conflito em curso.
Paralelamente com estes desenvolvimentos no plano da diplomacia externa, o grupo dos designados neoconservadores americanos foi manobrando a nível interno em duas frentes, no sentido de voltar a fazer prevalecer as suas teses. A primeira frente consistiu em ampliar as críticas a Condoleezza Rice, procurando assim minar a influência desta junto de George W Bush e preparar a opinião pública interna para a definição de novos alvos militares. A segunda, foi orientada para o plano bilateral e traduziu-se na utilização das suas posições chave na administração Bush – terá sido devido à influência da equipa de Dick Cheney (o vice-presidente) e a Elliott Abrams (director principal do Conselho de Segurança Nacional para o Próximo Oriente) – para partilhar informações dos serviços de segurança nacional (NSA) sobre a Síria e o Irão com os israelitas, no sentido de fundamentarem o proclamado auxílio destes países ao Hezbollah e assim alcançarem uma hipotética escalada militar no conflito.
Adiada para já esta hipótese, que poderia bem consistir em conduzir as FDI (o exército de Israel) a atacar alvos na Síria e no Irão, nem por isso aquele grupo de exacerbados defensores do princípio de “quanto pior melhor” deverá ter abandonado as suas iniciativas.
A fragilização do grupo mais moderado (que em termos de figuras da administração é normalmente associado a Condoleezza Rice, como já o fora a Colin Powell) parece estar a resultar e os efeitos que se terão feito sentir na “resolução” do conflito entre Israel e o Líbano, deverão a breve trecho expandir-se a outras importantes vertentes como é o caso da questão nuclear iraniana.
Anteriores análises e intervenções dos neoconservadores sobre o Médio Oriente são motivo de preocupação suficiente sobre o que poderá vir a acontecer. Para tal basta lembrar o trabalho realizado por Richard Perle (ex-director do Gabinete de Política de Defesa americano), Douglas Feith (ex-subsecretário de estado da Defesa) e David Wurmser (conselheiro para o Médio Oriente de Dick Cheney) a pedido do gabinete israelita chefiado por Benjamin Netanyahu, no qual os autores preconizavam o que designaram por “corte radical”: o abandono da política de “terra por paz” que conduzira aos Acordos de Oslo, por outra que forçasse árabes e palestinianos a aceitar a “paz pela paz” no termos de Israel; além de preciosidades deste calibre, o “estudo” previa ainda acções militares com vista ao enfraquecimento da Síria e até um plano para estender o controle do ex-rei Hussein da Jordânia ao Iraque.
Basta lembrar a forma como a administração de Bush fundamentou a pretensão do ataque ao Iraque, baseada em informações falsas e sem qualquer fundamento, para antever que de iniciativas originadas pelos neoconservadores pouco ou nada de bom poderá resultar. Pior do que o fracasso de uma política agressiva é a ausência de reconhecimento do erro e a persistência no mesmo.
Depois de terem falhado a criação de um cenário de conflito generalizado em torno de Israel, de terem mergulhado o seu país e os aliados ingleses num conflito sem fim à vista no Iraque, os neoconservadores preparam-se agora para conduzir americanos, israelitas e quem os apoiar num cenário de confronto com Síria e Irão que pode bem ampliar-se a outras regiões.
Procurando substituir a qualquer custo a arma do diálogo pelo diálogo das armas este grupo de “influentes personalidades” (que, é bom não esquecer, inclui o actual homem forte do FMI - Paul Wolfowitz) continua a manobrar no sentido de conduzir os EUA ao que entendem ser o seu desígnio universal, nem que para tal tenham que arrasar tudo e todos à sua passagem e no final fiquem a “mandar” apenas em si próprios, se sobrar algum…
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