Dizer isto num momento em que no país tanto se apela ao aumento da competitividade e da sacrossanta produtividade, pode parecer contraditório ou, no mínimo politicamente pouco correcto, mas Sarsfield Cabral torneia a questão com reconhecida habilidade e conclui falando de outros modelos económico-sociais, mais próprios de sociedades mais desenvolvidas que a nossa, e de diversas dinâmicas, como a melhoria de condições para o aumento da taxa de natalidade (outra questão tão na moda), e abordagens do mercado de trabalho, como seja o tele-trabalho e a rigidez do nosso código de trabalho que inviabiliza sistemas de flexibilidade de horários e de trabalho em “part-time”.
Apesar de alguns argumentos válidos para explicar o insucesso de medidas daquele tipo numa economia como a portuguesa – os baixos salários nacionais não contribuem para as pessoas sobrevalorizarem conceitos como o da qualidade de vida, a reduzida dimensão da maioria das nossas empresas não permite a aplicação de horários flexíveis – ficaram por abordar outro tipo de questões que explicarão, por maioria de razões aquele insucesso. Entre estas destaque-se a quase absoluta falta e cultura empresarial da maioria dos “patrões” e, pior que isto, a péssima qualificação da maioria das chefias intermédias das grandes empresas nacionais (aquelas onde a aplicação de conceitos daquele tipo seria mais fácil).
Para debatermos eficazmente questões de organização de trabalho (e por acréscimo questões de natureza social) é indispensável não esquecer quem na realidade dirige as empresas que temos. Os patrões das PME´s, que representam a grande maioria dos empregadores nacionais, com reduzidos níveis de formação em matérias de gestão (e lacunas ainda mais evidentes em questões de natureza relacional) dificilmente poderão constituir parte da solução; os gestores intermédios das grandes empresas tendem, seja por falta de formação seja pelo temor do insucesso, a agravar o problema em vez de constituírem parte da sua solução. É indispensável não esquecer que no nosso país ainda impera a figura do “capataz” (a distância temporal que nos separa da revolução industrial é infinitamente menor que no resto dos países da OCDE), aquele cuja função fundamental é a de funcionar como “os olhos e os ouvidos do patrão”!
Perante um cenário desta natureza e com as tristes perspectivas que nos oferece o nosso sistema de educação, como podemos esperar vir a inverter este processo? A primeira geração após 1974 já está perdida e caminhamos alegremente para perder a segunda, a menos que se consiga inverter todo este processo. Sucede, porém, que não se criam gerações de empreendedores a partir do zero nem por processo de geração espontânea, da mesma forma que não se criam gerações de dirigentes, nem gerações de trabalhadores capazes de enfrentarem, mais do que o mundo em mudança, as incapacidades daqueles que os deveriam dirigir.
No meio de tudo isto temos um “viveiro” de ineptos e incapazes a dirigirem empresas, orientados por grupos de outros incapazes a dirigirem o país.
Aqueles que ao longo do tempo têm procurado alertar para estas situações e fazer valer alguns argumentos de mudança (principalmente de mentalidades) têm-se visto criticados e marginalizados, não sendo por isso de estranhar que para estes o trabalho seja um mal necessário para ganhar a vida e engrossem as fileiras dos profissionalmente frustrados.
É em momentos como este que me recordo de uma crónica radiofónica de António Perez Metelo, em que este comparouo período de declínio do segundo governo de Cavaco Silva com aquele célebre quadro de Bruegel o Velho - "Um cego conduzindo outros cegos".
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