quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A TOSQUIA DE JOÃO DUQUE

Tal como o professor João Duque fez na sua mais recente crónica no ECONÓMICO, também eu mal resisto a trazer-vos aqui uma “estória” de barbearia.


Não para recordar o meu barbeiro de infância e juventude (que ao contrário do dele não recebia o tratamento de “Ti Jacinto” mas tão somente de “Sr António”), antes para recuperar uma interessante “charge” radiofónica dos tempos dos velhos Parodiantes de Lisboa que regularmente nos acicatavam a curiosidade e o sorriso com a célebre frase: “O freguês que se segue...”, que sabíamos de antemão que precedia uma qualquer crítica bem-humorada.

É que depois de ler a crónica onde o autor denuncia (e bem) a realidade de um sistema financeiro que vive do comissionamento (cobrança de comissões de intermediação sem qualquer aporte prático sobre o acto de compra e venda, o que apenas é possível por aquele sector de actividade beneficiar de privilégios especiais e reservados a um grupo muito restrito de actores económicos, próprios dos mercados liberais), não pude deixar de recordar outros textos e outras intervenções públicas, nomeadamente em canais televisivos, onde o mesmo sempre surge na defesa dos “mercados” e das regras neoliberais que nos conduziram ao estado em que estamos.

Porque tenho como seguro que este intróito, no qual João Duque denuncia que um intermediário financeiro lhe propôs a aquisição de OT’s (títulos de dívida pública do Estado Português) com uma diferença de rendimento face às taxas praticadas no mercado da ordem do 1,88% (as diferenças variariam entre os 2,38% e os 1,62% conforme a série de obrigações) concluindo que «...se este intermediário conseguir colocar dez milhões de euros numa semana nas mãos de aforradores menos atentos, com uma margem de 1,88% conseguirá o módico lucro médio de 188 mil euros. Nada mal para um risco absolutamente nulo, uma vez que nem a garantia do investimento ele dá, limitando-se a informar que a aplicação está "totalmente garantida pelo Estado Português"», será seguido de nova avalanche de “doutas” opiniões sobre a superioridade e a racionalidade dos “mercados”, porque então o autor já terá convenientemente esquecido o episódio agora narrado.

Tal como em tempos o fizeram os Parodiantes de Lisboa, resta-me aguardar pela crónica que se segue..., porque sei de antemão que João Duque não retirará deste episódio a ilação que se justificava: a de que parte significativa dos problemas económicos e financeiros que o Mundo atravessa se deve à preponderância a que se arvorou o sistema financeiro e muito em especial à desajustada protecção que o mesmo continua a beneficiar dos poderes políticos.

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