Pelo menos é assim que nos tentam apresentar a mais recente fuga de informação chegada ao WikiLeaks. Na prática tratar-se-ão de mais de 250.000 documentos nos quais se encontra reflectida a actividade diplomática dos EUA nos últimos anos.
Embora a maior parte dos jornais que colaboraram naquela divulgação (New York Times, Guardian, Le Monde, El Pais e Der Spiegel) tenham centrado a sua atenção em aspectos mais ou menos pontuais das revelações, julgo que a sua principal virtude possa encontrar-se no facto de desmitificar definitivamente o urbanismo e a lisura de meios que alguns ainda persistam em atribuir ao mundo da diplomacia e aos seus intervenientes.
Outra confirmação particularmente importante prende-se com a participação activa do corpo diplomático norte-americano no processo de recolha de informações (vulgo espionagem) – algo que para os membros mais atentos a minha geração (e com melhor memória) não poderá constituir grande novidade, pois ainda recordarão um tal Frank Carlucci, que depois de ter integrado os quadros da CIA foi nomeado em 1975 embaixador em Lisboa, cargo que desempenhou até 1978 para mais tarde regressar à CIA como seu director –, com a agravante dessas “funções” terem sido explicitamente estendidas até ao interior da própria ONU.
Dos vários comentários e críticas que de quase todos os quadrantes têm surgido, desde os que criticam a iniciativa até aos que lhe reconhecem algum mérito, parece-me de destacar um («O Wikileaks trama políticos e jornalistas», publicado no DN e assinado por Pedro Tadeu)que chama a atenção para o facto da informação não ter chegado em primeira mão aos jornalistas, o que indiciando que estes não merecerão a necessária confiança talvez justifique os termos do lamento do seu autor: «Queixo-me, isso sim, é de nem os melhores jornais do mundo serem capazes de, por si só, merecerem a confiança das fontes para serem eles a conseguirem estas informações, trabalhando-as por claros critérios jornalísticos . Queixo-me por, como se constata, anos e anos de rotina, conformismo, politiquice, cobardia, carreirismo, mercantilismo e estupidez terem colocado os jornais, para o cidadão comum, ao nível de desconfiança que habitualmente se reserva aos políticos. Queixo-me por os jornais só parecerem jornais quando um qualquer WikiLeaks desafia a essência da sua razão de ser.»
Mais do que o conhecimento público das apreciações (merecidas ou não) sobre as principais figuras mundiais, esta nova série de revelações do WikiLeaks deverá ser reconhecida como importante no quadro de uma conjuntura onde as fontes alternativas de difusão de informação parecem ganhar cada vez mais relevância.
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