quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

PRÉMIOS CARICATOS


É curioso como séculos volvidos sobre o seu apogeu, o Império do Meio não só parece ter renascido como ocupa cada vez mais o centro das atenções mundiais.

Se não bastasse o reconhecimento do papel da China – herdeiro óbvio e representação moderna do Império do Meio – na actual conjuntura económica mundial e a sua crescente influência no G20, até no singelo plano nacional as notícias que enxameiam os jornais sobre a deslocação do ministro Teixeira dos Santos para mendigar em Pequim algum apoio ao financiamento da dívida pública portuguesa, para quase obscurecer os despachos noticiosos sobre a recente realização da cerimónia da atribuição do polémico Nobel da Paz ao dissidente chinês Liu Xiaobo e o boicote chinês.


Mesmo duvidando da eficácia desta opção, tanto mais que talvez a crescente influência da diplomacia chinesa justificasse outra abordagem, é inegável que a ausência de unanimidade na sua condenação internacional, representa a existência de alguma forma de apoio.

Sabendo-se que a política internacional é cada vez mais sustentada na chamada “realpolitik” não se estranhará que a par com os claros apoiantes da opção chinesa figurem aqueles que o fazem pelas vantagens que poderão retirar desse apoio.

O mesmo raciocínio é aplicável aos que apoiarão a escolha do Comité Nobel mais pelo que ela pode representar de clivagem com o regime de Pequim que pela qualidade do escolhido, pois poucas são as referências à obra e pensamento do laureado. Aliás, esta escolha insere-se na mesma linha da do ano transacto, quando foi escolhida uma personalidade de duvidosa qualidade para a nomeação, como Barack Obama, e podendo representar uma nova práxis, pode também significar (como então o referi aqui) o princípio do fim da credibilidade dos futuros laureados.

Isso mesmo pode ser entendido quando recentemente Rússia sugere que fundador WikiLeaks seja indicado Nobel da Paz, o rosto visível do WikiLeaks.

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