sábado, 18 de dezembro de 2010

PREVISÍVEL…


Previsivelmente, como nos habituaram, os dirigentes europeus reuniram em mais um conclave com reduzidos ou nulos efeitos relevantes sobre a comunidade que dizem dirigir. Decidiram avançar com o processo de revisão simplificada do Tratado de Lisboa (a famigerada constituição neoliberal que despudoradamente e à revelia da sua opinião impuseram aos povos europeus) deixando questões mais polémicas, como a proposta subscrita pelo presidente do Eurogrupo para a emissão de eurobonds, para momento mais oportuno.

Aparentemente muito preocupados com os “fogos” que vêem lavrar continuam absolutamente incapazes vislumbrar, pouco que seja, além dos magros limites que a sua miopia técnica e política lhes permite.


Continuam a proclamar aos quatro ventos o seu empenho no crescimento e no aprofundamento da UE, mas, ineptos e incompetentes como são, desprovidos de vontade e da mínima capacidade de antecipação da realidade que os rodeia, comprazem-se nestes conciliários onde cada um dos intervenientes parece pior que os seus congéneres. Seguindo a mui conveniente regra (que os próprios instituíram) de evitarem todo e qualquer tema ou discussão que não gere unanimidade (ou uma muito confortável maioria dos mais poderosos), os sucessivos dirigentes europeus têm procurado sobreviver às ameaças que os rodeiam fingindo que estas não existem ou, quanto muito, esperando que não atinjam senão os seus vizinhos.

Não admira, por isso, que a credibilidade da UE atravesse um dos seus períodos mais negros e que figuras tristes como as de Durão Barroso, Herman Van Rompuy, Catherine Ashton e quejandos, sejam cada vez mais apontados como incapazes e claros responsáveis pelo imobilismo a que chegaram as estruturas comunitárias. Claro que para chegarmos a este estado de coisas muito têm contribuído os diferente líderes nacionais que, cada vez mais insignificantes (até no próprio plano interno) nenhum valor têm acrescentado e parecem cada vez mais incapazes de o virem a fazer.

Num contexto onde claramente tem faltado qualidade aos actores, não é de admirar que o espectáculo se degrade a olhos vistos, apenas sendo de estranhar que os cidadãos europeus pareçam ainda dispostos a conferir-lhes um mínimo de legitimidade, tanto mais que veteranos da causa europeia – como os ex-chanceler alemão Helmut Shmidt, o ex-presidente da comissão, o francês Jacques Delors, ou até o ex-primeiro ministro e ex-presidente português, Mário Soares – não têm deixado de fazer ouvir a sua voz na defesa dos princípios basilares que estiveram na formação da CEE e da UE: a sobreposição do interesse comunitário ao interesse nacional e o princípio da solidariedade.

Isso mesmo ficou uma vez mais bem patente quando numa reunião anunciada como destinada a transmitir uma nova imagem da determinação dos líderes europeus na defesa da moeda única, as questões fundamentais como as da definição de uma política económica e fiscal comum que contemple uma estratégia de combate à crise ou, finalmente, a criação do exército único que sustente uma estratégia externa comum, foram desprezadas em benefício duma orientada para a definição dos mecanismos de resgate das economias em dificuldade.

Em vez de debaterem e concertarem soluções tendentes à recuperação do controlo da emissão monetária e à criação de mecanismos para o financiamento do espaço euro, os responsáveis comunitários e nacionais preferiram traçar uma estratégia orientada para o combate aos sintomas da crise (ou sejam os défices orçamentais e a subida das taxas de juro das dívidas soberanas) através do cumprimento das metas orçamentais e da redução dos défices nacionais para valores inferiores aos 3% e lançaram a ideia de iniciarem em 2011 a discussão de uma união fiscal; por outras palavras, os líderes europeus e nacionais preferem continuar com as políticas restritivas já iniciadas e contra as quais as populações dos países mais atingidos (Grécia e Irlanda, para já...) continuam a manifestar-se, a enfrentar o cerne do problema e a beliscar que seja os interesses do poderoso sector financeiro internacional.

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